Desde 2022, uma iniciativa pioneira tem ganhado espaço nas escolas públicas do Pará, mudando a forma como crianças entram em contato com a cultura afro-brasileira: as “Afrotecas”, bibliotecas dedicadas exclusivamente a obras e autores negros. O projeto, que começou em Santarém, no oeste do estado, cresceu rapidamente e agora se prepara para chegar a mais cinco cidades, tornando-se um exemplo potente de educação antirracista no Brasil.
As Afrotecas são centros que disponibilizam jogos, brinquedos e instrumentos musicais, todos voltados para promover a igualdade racial desde a infância.
“Queremos combater e superar o racismo na infância”, explica o professor Luiz Fernando França, coordenador do projeto, em entrevista ao portal Terra. Ele conta que a ideia nasceu dentro do Projeto Kiriku, criado na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), com o objetivo de estudar e propor alternativas pedagógicas que enfrentem o racismo no ambiente escolar.
A partir de pesquisas realizadas em Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEIs), o grupo percebeu que as crianças negras enfrentavam estereótipos e discriminação de forma recorrente. Foi essa constatação que motivou a criação das Afrotecas.
Atualmente, quatro Afrotecas já funcionam no Pará. A primeira, chamada ‘Willivane Melo’, abriu caminho para outras três: ‘Amoras’, ‘Sankofa’ e ‘Lelê’, todas localizadas em CEMEIs. Em setembro de 2023, novas unidades foram anunciadas em parceria com o Ministério da Igualdade Racial, expandindo a iniciativa para cinco cidades, com previsão de inauguração até março de 2025.
Além de ser uma inovação necessária na educação infantil, o projeto também reflete o cumprimento da Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Para Luiz Fernando França, as Afrotecas têm potencial de se tornar uma política pública permanente. “Estamos apresentando uma solução concreta e funcional, com impacto real nas crianças. O sonho é que essa tecnologia educacional se torne um modelo antirracista para todo o Brasil”, afirmou ao Terra.
O projeto, que começou há dois anos, já inspira mudanças e traz esperança de um futuro onde as novas gerações cresçam em ambientes mais inclusivos e conscientes de sua história e identidade.
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