Mais de dois terços dos trabalhadores formais no Brasil cumprem jornadas 6×1 (seis dias por semana).
A escala 6×1, predominante no comércio e serviços, exige dedicação de seis dias semanais e é a realidade para 65,8% dos trabalhadores formais no Brasil, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2022. Os dados do levantamento revelam que 82% desses empregados ganham menos de dois salários mínimos, percentual que atinge 90% entre mulheres pretas e pardas.
Um levantamento exclusivo feito pela Lagom Data em parceria com a CartaCapital apresentou dados que ilustram essa desigualdade. O modelo 6×1 reflete as desigualdades no mercado de trabalho e o baixo rendimento da maioria dos empregados.
42% desses trabalhadores recebem até 1,5 salário mínimo (cerca de R$ 2.100). A disparidade é ainda mais acentuada entre mulheres pretas e pardas, com 60% delas nessa faixa salarial, em contraste com 27% dos homens brancos.
Apoio à extinção da escala 6×1
O debate sobre a escala ganhou força após a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) coletar 216 assinaturas para pautar um projeto de emenda constitucional (PEC) que visa acabar com esse regime. O número superou em 46 assinaturas o mínimo necessário (171) para iniciar a tramitação no Congresso. A proposta mobilizou protestos em diversas cidades e recebeu apoio até de partidos de direita, como o União Brasil.
Desigualdades regionais
O levantamento também revelou diferenças regionais significativas. Em Santa Catarina, 80% dos contratos formais seguem a escala 6×1, enquanto no Maranhão pouco mais da metade dos trabalhadores enfrentam jornadas superiores a 40 horas semanais. Estados como Goiás, Mato Grosso e Rondônia registram índices próximos a 75%.
Impactos da escolaridade e da economia desindustrializada
Embora a escolaridade seja frequentemente usada como justificativa para os baixos salários, os dados da Lagom Data mostram que mesmo trabalhadores com ensino superior completo enfrentam condições precárias. Há cerca de 370 mil mulheres e 173 mil homens com diploma universitário submetidos à escala 6×1 e rendimentos inferiores a dois salários mínimos.
Foto da capa: Letycia Bond/Agência Brasil.
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