Educação permissiva X Educação positiva: especialista explica as diferenças e os impactos

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A Educação Positiva e a Educação Permissiva foram amplamente discutidas nas redes sociais, com pais e professores compartilhando suas experiências, e dividindo opiniões. A educação permissiva resume-se na flexibilidade e evitar conflitos entre pais e filhos, e a positiva busca ajudar os pais a usarem empatia, comunicação não violenta e equilíbrio entre a firmeza e a permissividade, para criar seus filhos.

Em entrevista ao Notícia Preta, o psicopedagogo, psicomotricista e musicoterapeuta Ricardo Bastos, explica a diferença entre as duas, e dá um panorama de como acontece a inserção desses tipos de educação nas escolas. Além disso, ele também explica como impor limites para que as crianças não ultrapassem seus tutores.

Especialista aponta as diferenças entre a educação Positiva e a educação Permissiva /Foto: Pexels

Notícia Preta: O que é a educação permissiva e positiva e qual a diferença entre elas duas?

Ricardo Bastos: De uma forma bem objetiva, podemos dizer que a educação positiva tem o foco central no equilíbrio entre a disciplina, a empatia e o emocional. Não quer dizer que não existam regras ou consequências em detrimento de um bem-estar emocional sempre em alta, mas sim que, as regras são bem definidas, e existem sim consequências com limites claros e suporte constante.
Já a educação permissiva, passa mais uma ideia de passividade, aonde a criança ou adolescente não tem de forma clara, quais consequências os seus atos geram, muitas das vezes, alguns docentes, pais e escolas, acabam meio que caindo nessa “armadilha”, aonde a busca de evitar um conflito ou um desagrado, acabam flexibilizando regras e consequentemente a própria autoridade.

NP: Como você acha que acontece o desdobramento desse tipo de educação nas escolas?

RB: Na escola privada, quando a educação positiva pôde ser estabelecida de maneira eficaz, possivelmente teremos sujeitos conscientes de suas escolhas e focados no intuito de conhecer coisas novas e aprender. Porém, é válido salientar, que todo sujeito é único, e nessa especificidade, devemos considerar, que nem todos se adaptarão a esse modelo de ensino em uma escola privada, e em algumas vezes, com o receio de “perder” esse aluno e essa família, a escola pode acabar cedendo e flexibilizando algumas regras, pensando no hoje, e esquecendo do adolescente, jovem e adulto de amanhã, que pode se tornar uma pessoa egocêntrica, que não aceita limites, ou com dificuldades de frustração.

Esse mesmo conceito na escola pública, não se enquadra nos mesmos moldes, pois muitas das vezes, a criança/adolescente, já esta inserido em um ambiente autoritário fora da escola (o toque de recolher por conta da violência urbana, a violência doméstica, abusos, racismos etc) logo, ele não consegue reconhecer muitas das vezes esse ambiente positivista, soma-se isso ao contexto da própria sala de aula, muitas das vezes com professores esgotados mentalmente (por conta das cargas horárias e demandas), salas lotadas, e a própria falta de estrutura. Desse modo, acaba por se formar um ambiente muito mais permissivo do que positivista em sí, levando desse modo ao baixo rendimento acadêmico, a não internalização dos conteúdos e a evasão escolar muitas das vezes.

NP: Como aplicar a educação positiva sem cair na permissividade?

RB: Eu diria que é mais como “saber jogar o jogo”, não é flexibilizar e esquecer a regra, é saber aplicar a regra enquanto flexibiliza. Por exemplo: O seu filho te diz que não quer fazer a lição de casa agora. Ao invés de simplesmente ser permissivo e deixar que ele não faça algo que é necessário para a educação dele, por que não responder o seguinte: – Tá bem, então daqui à xx minutos, depois que você (xxx coisas que ele poderia estar fazendo), eu vou me sentar com você e nós vamos fazer a lição juntos.

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NP: Em que momento estabelecer limites dentro desses estilos de educação? Tutores inseguros com esse tipo de educação, podem afetar o desenvolvimento das crianças?

RB: Certamente, pois os pais/tutores são como espelhos para os filhos. Junto a isso, também devemos estar atentos também as fases de neurodesenvolvimento da criança, em uma criança não que tem ainda uma maturação cognitiva adequada para o uso de regras, as mesmas podem não fazer sentido e acabarem sendo vistas como somente uma “punição”, onde ela vai internalizar que o adulto somente não quer que ele faça e ponto final, e não pelo fato de ser uma “regra”, seja no contexto educacional ou social.

Toda criança passa por uma fase chamada fase do egocentrismo, nessa fase ela se observa como o centro do mundo e tudo deve se dobrar aos seus desejos, se ela estiver com vontade de colocar o dedo na tomada e os pais tentarem intervir, ela certamente debulhará em lagrimas por que os pais “chatos” não a deixaram tomar um choque. Alguns teóricos indicam que esse egocentrismo vai dos 2 aos 7 anos, porém podemos também praticar com as crianças a capacidade dos conceitos de empatia, com coisas simples e pequenas, primeiramente sendo o exemplo: não furando o sinal de trânsito, respeitando as filas e aguardando a sua vez, e principalmente, explicando o porquê de determinadas regras e não dizendo simplesmente porque sim ou porque não.

NP: Como os pais e tutores podem fazer a análise de perfil de que tipo de pais são, para que consigam escolher corretamente o tipo de educação para aplicar à criança?

RB: Os pais podem começar por uma autoavaliação honesta, observando como reagem em situações de conflito ou desafio com os filhos. Perguntas que podem ajudar nesse processo incluem: “Eu tento evitar conflitos a todo custo?”, “Eu me sinto culpado ou ansioso ao impor limites?”, “Eu sou consistente nas regras que estabeleço?”, ou “Eu dou liberdade sem deixar de orientar?”.

Além disso, buscar feedback de pessoas de confiança, como familiares, amigos e principalmente profissionais, pode oferecer uma perspectiva externa valiosa. Reflexões sobre como os próprios pais foram criados também podem ajudar a identificar padrões que estão sendo repetidos, conscientes ou inconscientemente.

Sobre Ricardo:

Nos períodos finais, quando fazia estágio na rede pública municipal de ensino do Rio de Janeiro, observou que algumas crianças apresentavam o desenvolvimento acadêmico comprometido de formas variadas (umas mal usavam cadernos e outras encontravam dificuldades para entender conceitos básicos), somado a isso, ainda haviam a greve dos professores, a falta deles em algumas matérias e a evasão escolar por comportamentos que ele não entendia o porquê.

psicopedagogo, psicomotricista e musicoterapeuta Ricardo Bastos /Foto: Reprodução Redes Sociais

Mais adiante, Ricardo fundou junto de sua esposa a clínica “Psi em Família”, que inicialmente, era voltada apenas para a área de psicologia clínica e treinamentos, mas nesse meio tempo, realizou a inscrição em cursos sobre autismo e concluiu a pós graduação em psicopedagogia. Assim que passou a observar a atuação de crianças em idades iniciais, percebeu que elas desenvolvem melhor a aprendizagem através do lúdico, da música e do manejo de quem esta ensinando, desta forma, especializou-se também em psicomotricidade e musicoterapia, conseguindo abrir a janela de idade de crianças favorecidas com o seu trabalho.

Aproveitando o ensejo dessas pós graduações, se atualizou em neurodesevolvimento e autismo e lançou dois livros infantis: Murilo descobrindo o autismo e Tainá descobrindo o TDAH. Aprendendo a cada dia mais sobre neurodiversidade, observou que tinha algumas características neurodivergentes e após análise neurológica, apresentou indicação de autismo do grau 1 com altas habilidades e superlotação.
Hoje, está realizando uma nova graduação na área de terapia ocupacional, pois a área da saúde e neurodiversidade sempre chama a sua atenção.

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