Educação Antirracista: resgatando heróis e histórias negligenciadas

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Por Thais Bernardes, jornalista, fundadora e CEO do Notícia Preta

Toda narrativa histórica é moldada por quem a conta. O que sabemos sobre o passado reflete escolhas feitas em contextos sociais, morais e políticos. Isso é particularmente evidente quando perguntamos: *Quem são nossos heróis nacionais?*

Vamos fazer um exercício rápido: diga em voz alta o nome de três heróis nacionais que lhe vêm à mente. Se você respondeu instintivamente, é provável que ao menos dois desses nomes sejam de homens brancos. Isso nos leva a refletir: por que figuras históricas negras, que desempenharam papéis cruciais, são tão frequentemente ignoradas?

A cor da pele de muitos brasileiros que contribuíram significativamente para a história do país é um critério que, infelizmente, tem ditado sua ausência nos livros didáticos e na memória coletiva.

Antonieta de Barros /Fonte: Museu da Escola Catarinense, Saleta Antonieta de Barros

O Papel dos Quilombos na História Nacional

Para exemplificar, pense nos quilombos do Brasil. O que você aprendeu sobre eles na escola? Foi ensinado que eram espaços de resistência e comunidades organizadas, ou que eram apenas refúgios para “negros fujões”? O Quilombo dos Palmares, por exemplo, não era apenas um esconderijo. De 1595 a 1695, foi um modelo de sociedade alternativa ao sistema escravocrata. Nomes como Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares são heróis que desafiaram o status quo e lideraram uma comunidade de mais de 20 mil pessoas em resistência.

O Apagamento dos Heróis Negros

Se heróis brancos tivessem liderado uma revolta semelhante, será que os livros didáticos ainda hesitariam em reconhecer a importância dessas figuras? A educação brasileira precisa refletir sobre essa disparidade para construir um currículo verdadeiramente inclusivo e que celebre todas as contribuições à nossa história.

Heróis Pouco Reconhecidos

Quantos de nós sabemos quem foi Luiz Gama, advogado e jornalista que libertou centenas de escravizados antes mesmo da abolição? Ou Aqualtune, mãe de Ganga Zumba, que lutou pela defesa dos quilombos? E que dizer de Tereza de Benguela, que liderou o Quilombo do Quariterê, ou Antonieta de Barros, primeira mulher negra a ser eleita deputada federal e jornalista? Essas histórias merecem ser contadas e estudadas com a mesma importância que outros grandes feitos.

História Silenciada: Lanceiros Negros e a Revolta dos Farrapos

Outro exemplo de apagamento está na narrativa da Revolta dos Farrapos (1835-1845). Os “lanceiros negros”, que lutaram pela própria liberdade ao lado dos republicanos, foram traídos em um evento conhecido como a Traição dos Porongos. Um ataque orquestrado entre as forças republicanas e o Império resultou em mais de 100 mortos, sacrificados como escudos em uma estratégia cruel.

O Papel da Educação na Transformação Social

A educação antirracista tem o potencial de reconfigurar a maneira como vemos e interpretamos nossa história. A escola deve ensinar que pessoas negras não são descendentes de escravos, mas sim de seres humanos sequestrados, escravizados e forçados a sobreviver em condições desumanas. Essa mudança de perspectiva reforça o valor e a dignidade dos antepassados negros e combate narrativas que desumanizam e diminuem suas contribuições.

Por que Precisamos de Heróis Negros?

O conceito de herói é poderoso; ele molda a maneira como percebemos nosso potencial. Associar figuras negras à heroísmo, coragem e liderança constrói um imaginário coletivo no qual todos podem se ver como capazes de superar desafios. Celebrar heróis negros é, portanto, essencial para que crianças negras cresçam com a consciência de que podem vencer, criar e liderar.

Incluir essas histórias no currículo escolar é vital para formar cidadãos que entendam a complexidade e a diversidade de nossa sociedade e que reconheçam que as questões raciais e econômicas sempre estiveram presentes, moldando o curso de nossa história.

Educação e Capacitação

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