Segundo uma estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 56% da população brasileira se autodeclara negra, mas quando de trata de Economia Criativa esse número não condiz com a realidade social do Brasil.
De acordo com o levantamento Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, baseado na PNAD Contínua (IBGE), entre o 3º trimestre de 2021 e o 3º trimestre de 2022, a participação de trabalhadores negros (agregado de pretos e pardos) no total de ocupados na economia criativa foi, em média, de 43%, e de 57% brancos. Comparativamente, para o agregado do mercado de trabalhado brasileiro, em média, 54% se autodeclaram como negros, contra 46% de brancos.
Entre os trabalhadores criativos (especializados e incorporados), observa-se maior participação de pretos e pardos nas ocupações culturais – atividades artesanais, artes cênicas e artes visuais, cinema, música, fotografia, rádio e tv e museus e patrimônio – do que nas demais ocupações criativas, como arquitetura, design, editorial, gastronomia, moda, publicidade e serviços empresariais e tecnologia da informação. Pretos e pardos representam pouco mais de 50% do total de ocupações culturais somente no segundo trimestre de 2022.
Já no segmento dos empregados em setores criativos (trabalhadores especializados e de apoio), pardos e pretos tem maior participação em moda, atividades artesanais e artes cênicas e visuais. Contudo, o único ponto na série histórica em que há maioria de pretos e pardos em uma categoria setorial é no terceiro trimestre de 2022, para atividades artesanais (53%).
Por outro lado, os setores de publicidade e serviços empresariais, arquitetura, tecnologia da informação e editorial registram a maior média histórica de participação de trabalhadores brancos empregados. Em relação à remuneração média, todos os grupos raciais têm aumentado seu nível salarial nominal ao longo dos anos na economia criativa. No terceiro trimestre de 2022, a média foi de R$ 3,8 mil, superando o agregado da economia brasileira (R$ 2,7 mil) em cerca de 40%.
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No entanto, na economia criativa os salários médios de trabalhadores pretos e pardos seguem sendo cerca de 50% menores do que os de brancos. Esta diferença é ainda maior no agregado da economia, com trabalhadores pretos e pardos recebendo cerca de 70% menos que brancos.
Parte dessa explicação está na diferença do nível de escolaridade dos que trabalham no setor cultural e criativo para diferentes grupos raciais. Entre os brancos predomina a formação de ensino superior completo, enquanto para trabalhadores pretos e pardos predomina a formação de ensino médio completo.
Gênero
Há também diferenças nas médias salariais por gênero. As mulheres recebem menos do que os homens em todos os grupos raciais analisados, mas os trabalhadores brancos de ambos os gêneros recebem mais do que os trabalhadores pardos e pretos.
Essas diferenças refletem questões raciais e de gênero ao longo de toda série histórica: o salário das mulheres pretas mantém uma média quase 70% menor do que a dos homens brancos da economia criativa. No agregado da economia brasileira esta diferença é ligeiramente menor – ainda que bastante intensa –, com mulheres pretas e pardas recebendo um salário 55% abaixo do de homens brancos.
No terceiro trimestre de 2022, enquanto homens brancos recebiam em média R$ 3,8 mil, homens pretos e pardos recebiam em média R$ 2,2 mil. As mulheres brancas, por sua vez, tinham remuneração de R$ 2,9 mil e as pretas e pardas cerca de R$ 1,8 mil.
Em relação à média nacional brasileira, homens brancos trabalhadores da economia criativa recebem salários, em média, 40% maiores que de homens brancos, 90% maiores que o de mulheres brancas, 150% maiores que o de homens pretos e pardos e 200% maiores que o de mulheres pretas e pardas.