“É muito importante conhecer a luta política do movimento negro brasileiro”, diz professor babalaô Ivanir sobre documentário ‘Resistência Negra’ 

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Larissa, Djonga e Carolina

A série documental Original Globoplay, “Resistência Negra” que estreiou em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, aborda a história dos movimentos negros de resistência no Brasil. Os cinco episódios são apresentados pela cantora e atriz Larissa Luz, e pelo rapper Djonga, que juntos contam essa história, a partir do simbolismo de um barracão de escola de samba.

A série tem o roteiro assinado por Paulo Lins, Mariana Jaspe, Grace Passô, e foi idealizada pelo professor doutor babalaô Ivanir dos Santos. Segundo ele, em entrevista ao Notícia Preta, contar essa história é importante para mudar o olhar das pessoas, sobre o processo de resistência da população negra, no Brasil.

É muito importante a sociedade conhecer a luta política do movimento negro brasileiro. Uma sociedade racista como a nossa coloca esse movimento como se ele fosse antipático, uma coisa raivosa, odiosa, e nunca foi isso. Ele sempre foi um movimento de luta por conquista por direito. Seja na época da escravidão, em que lutou por liberdade, e resistiu, e seja atualmente na República, lutando pelo direito de ser cidadão“.

Larissa, Djonga e Carolina apresentam a série/ Foto: Globo/João Miguel Jr.

Para o professor, a série que fala sobre a história da resistência negra no Brasil a partir de temas como aquilombamento, trabalho, política, cultura, religião e educação., tem o potencial de “inspirar cada vez mais a nossa luta por direito“.

Durante os episódios, pesquisadores, integrantes da luta do movimento negro e figuras ancestrais dão seus depoimentos sobre o processo de resistência do povo preto e suas próprias histórias de luta contra o racismo, como Erica Malunguinho, Conceição Evaristo e Julio de Sá. Além disso, a história de figuras negras históricas como Emília do Patrocínio, Zumbi dos Palmares, Benedita da Silva, Carolina Maria de Jesus, André Rebouças e Francisco José do Nascimento (o Dragão do Mar), entre outros, são contadas.

De acordo com o professor doutor babalaô Ivanir dos Santos, que fez parte dessa história de resistência, ele é de uma geração que “tem a consciência de que a luta é coletiva, e que essa luta foi herdada de nossos ancestrais, daqueles que vieram antes de nós“, e que conseguiram “tornar, pela primeira vez na História do Brasil, direitos concretos na legislação“.

Ele cita as mudanças que sua geração promoveu, em prol de direitos para pessoas negras: “Seja a Lei Caó, que criminaliza o racismo; seja a própria lei 10.619 que fala da educação, da história da África, dos afro-brasileiros, e da cultura africana e afro-brasileira nas escolas, como deve ser; e a lei de cota. Isso é concreto hoje“, conta o professor, que completa: “O que eu espero dessas novas gerações que estão colocadas nessa luta em vários campos sociais, políticos, econômicos e culturais, é que elas tenham a compreensão de deixar um legado cada vez maior para as futuras gerações“.   

O documentário faz um mergulho na história da resistência e do movimento negro no Brasil desde as primeiras movimentações, até os dias atuais. A roteirista Mariana Jaspe, conta como foi o critério de construção do roteiro.

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A série não é sobre “A” história do movimento negro, não tenho essa pretensão. É sobre “uma história” do movimento negro brasileiro, é um recorte, um olhar, uma maneira de contar sob o nosso ponto de vista. E nós tínhamos um desafio enorme nas mãos: escrever cinco episódios sobre um tema que perpassa toda a história do Brasil pós-colonização portuguesa“, começa a roteirista, que continua:

Depois de muito estudar, chegamos a uma estrutura que chamamos de dinamite: nós partimos de um tema central e o explodimos. Dessa explosão, os estilhaços vão caindo em situações diferentes, em subtemas, que criam ramificações maiores a partir de desdobramentos políticos e sociais“.

De acordo com Mariana, esse modelo de documentário, ainda mais apresentado pelos artistas Larissa Luz e Djonga, tem a proposta de ser popular e de “se conectar ao maior número de pessoas possível, é levar o recorte dessa história a muita gente“. Ela define o projeto como “uma série gestada por três gerações de roteiristas muito diferentes entre si” e que “essas diferenças nos foram fundamentais no processo de criação“.

Dessa combustão nasceu o nosso desejo em comum de fazer um recorte da nossa história o mais honesto, o mais verdadeiro, o mais profundo, o mais fora do senso comum e o mais afetuoso possível. Acredito que é isso que o público pode esperar da série“, explica Mariana, que também conta como foi profissional e pessoalmente, fazer parte desse projeto.

Tenho pensado muito sobre a urgência da reconfiguração do nosso projeto de país, porque o alicerce fundamental do Brasil é o trabalho, o esforço, a força, a luta e a resistência das pessoas negras. Nossa mudança de rota rumo a igualdade e a equidade precisa partir desse entendimento. A série ‘Resistência Negra’ é mais uma pedrinha que ajudo a colocar no pavimento desse caminho“.

Os cinco episódios acontecem entre as etapas de construção de um carro alegórico no barracão de uma escola de samba, que funciona como fio condutor de como essas histórias são contadas na série. O primeiro episódio é “Tecnologia Ancestral”, o segundo “É tudo o mesmo suor”, o terceiro “A gente tem um trato”, o quarto “As leis para a população preta”, e o quinto e último episódio é o “Descobrir o Brasil”.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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