Dia Mundial Sem Tabaco: especialista da ACT alerta para estratégias da indústria do tabaco para atingir jovens e populações vulneráveis

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Apesar da queda histórica no número de fumantes nas últimas décadas, houve aumento do uso de cigarros eletrônicos entre jovens - Foto: Pexels

O Brasil reduziu drasticamente o número de fumantes nas últimas décadas, mas enfrenta hoje um novo desafio: o avanço de cigarros eletrônicos entre jovens e a persistência do tabagismo entre grupos socialmente vulneráveis. A avaliação é de Marcello Baird, cientista político e coordenador de advocacy da ACT Promoção da Saúde, entrevistado no programa NP Notícias, transmitido no dia 28 de maio, em alusão ao Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado em 31 de maio.

A campanha de 2025, promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tem como tema: “Desmascarar a indústria do tabaco: expondo as táticas das empresas para deixar os produtos de tabaco e nicotina mais atrativos”. E, segundo Baird, o alerta é urgente: “A população negra e com menor escolaridade é a mais afetada pela indústria do tabaco. Nada é por acaso”, disse ele.

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Apesar da queda histórica no número de fumantes nas últimas décadas, houve aumento do uso de cigarros eletrônicos entre jovens – Foto: Pexels

Brasil: exemplo de sucesso e risco de estagnação

Baird relembrou que o Brasil já foi reconhecido como referência mundial no controle do tabagismo, graças a uma série de políticas públicas implementadas a partir dos anos 1990. Segundo ele, essa “revolução silenciosa” teve quatro pilares principais:

  1. Informação ao consumidor, como os alertas nas embalagens;
  2. Proibição da publicidade de produtos de tabaco;
  3. Ambientes livres de fumo;
  4. Aumento da tributação sobre cigarros.

“Essas medidas fizeram a prevalência cair de um terço da população nos anos 1980 para pouco mais de 10% hoje. É um feito histórico”, ressaltou.

Mesmo com esses avanços, o tabagismo ainda causa cerca de 174 mil mortes por ano no Brasil e gera um custo bilionário ao sistema de saúde. “O tabagismo continua sendo uma chaga nacional”, disse Baird. Segundo a Pesquisa Vigitel 2023, o país ainda tem cerca de 18 milhões de fumantes.

Novas estratégias, novos alvos

Nos últimos anos, a indústria do tabaco voltou a crescer no Brasil por meio da introdução dos cigarros eletrônicos e do narguilé, especialmente entre adolescentes. Dados da pesquisa Fiocruz/Conjuve 2023 revelam que 17,6% dos estudantes entre 13 e 17 anos já experimentaram algum dispositivo eletrônico para fumar.

A indústria usa design atrativo, sabores como chocolate e frutas, propaganda velada nas redes sociais e estética tecnológica. Eles miram jovens, inclusive crianças. Antes era o cigarrinho de chocolate, agora são os pods”, alertou Baird.

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Quem mais sofre com o tabagismo?

A entrevista também destacou o impacto desproporcional do tabagismo sobre certos grupos. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, pessoas negras e com menor escolaridade continuam sendo as que mais fumam.

“As campanhas e políticas públicas não chegam a essas pessoas. A indústria do tabaco se aproveita dessa ausência. Quem fuma mais hoje são os mais pobres e os mais invisibilizados”, explica o coordenador da ACT.

A atuação da ACT Promoção da Saúde

A ACT é uma organização da sociedade civil que trabalha com produção de conhecimento, campanhas de conscientização, articulação com o poder público e pressão por políticas públicas eficazes.

Entre as ações atuais, Baird destaca duas frentes principais:

  1. A proibição dos aditivos de sabor nos cigarros, como cravo, menta, chocolate e frutas. Apesar de proibidos pela Anvisa desde 2012, ainda são vendidos por força de liminares judiciais. “Mais de mil novos produtos com sabor foram registrados nos últimos anos. Estamos com a campanha ‘Sabor que Mata’ pedindo que o STF decida pela proibição definitiva”, afirmou.
  2. Reforma tributária: a ACT defende o aumento imediato dos impostos sobre produtos de tabaco como forma comprovada de desincentivar o consumo. “Essa é a política mais eficaz para reduzir o número de fumantes”, disse.

O papel da sociedade civil

Ao final da entrevista, Thais Bernardes, apresentadora do programa, lembrou que a luta contra o tabaco exige atenção contínua. “Eles [a indústria] nunca param. As estratégias mudam, e a gente precisa acompanhar e cobrar respostas”, reforçou.

Para saber mais sobre as campanhas e se engajar, acesse o site da ACT Promoção da Saúde: https://actbr.org.br

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