Matéria publicada originalmente pelo Coletivo Entre Becos, de Salvador (BA), e replicado na íntegra e com as devidas autorizações.
Com 15 educadores voluntários e aulas gratuitas on-line de segunda a sábado, o pré-vestibular ProjEdur (Projeto Educacional Raízes), criado no bairro de Alto de Coutos, no subúrbio de Salvador, conecta e prepara mais de 40 alunos das periferias de norte a sul do Brasil.
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A iniciativa foi idealizada pela professora de português Maiane Soares, 34, formada em Letras Vernáculas e mestre em Língua e Cultura pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), com a ajuda de colegas. “O ProjEdur foi pensado em 2016, quando me formei. Comecei a articular a ideia e como executar. Convidei minha amiga Rejane dos Anjos para ser minha parceira nesse desejo. Confesso que não imaginava, de forma alguma, a proporção que tomaria”, conta a fundadora da instituição.
Moradora de Alto de Coutos, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, Maiane também chegou à universidade por meio de um cursinho gratuito, o Gappecc (Grupo de Ação para Promoção da Educação Científica e Cultural).
Inspirada por essa experiência, a educadora reuniu outros professores voluntários e criou o ProjEdur com o objetivo de oferecer educação de qualidade aos estudantes. Inicialmente planejado como um curso presencial, o pré-vestibular ampliou o seu alcance quando precisou se adaptar ao formato on-line durante a pandemia da Covid-19, e permaneceu remoto mesmo após a flexibilização social.
“Mantivemos o formato on-line porque boa parte dos educadores moram longe do bairro originário do projeto, Coutos. Além disso, teríamos que oferecer auxílio transporte para os professores, não teríamos como manter. Com a modalidade on-line, alcançamos diferentes localidades de Salvador e diferentes estados”, observa Maiane.
Com 44 alunos distribuídos por diversos estados, como Amazonas, Bahia, Espírito Santo e Goiás, as aulas do pré-vestibular, iniciadas em abril, ocorrem de segunda a sexta, das 18h às 21h30, e aos sábados, das 8h às 12h. Os encontros seguirão até as proximidades do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
“Temos aulas semanais e monitorias no período noturno com os matriculados. Aulões e intensivões para a turma e a comunidade externa. Fazemos também simulados com questões do Enem ao longo do ano”, conta Maiane.
Mateus Ramos, 18, ex-aluno e atual professor de língua inglesa do ProjEdur, vê no trabalho uma forma de agradecer e incentivar outros estudantes.
“Sempre me encantei com a ideia de retribuir o acolhimento que recebi. Penso que devemos partilhar o que construímos de conhecimento para os nossos e crescemos juntos. Antes de me sentir seguro para ensinar, fui monitor e assim sigo muito feliz em lecionar pelo quarto ano consecutivo”.
Mateus começou no projeto quando ainda cursava o 1º ano do ensino médio e era treineiro no Enem. Para ele, o pré-vestibular consolidou a sua base educacional.
“O projeto serviu para fortalecer e fundamentar as bases educacionais que eu viria posteriormente aplicar na minha vida como um todo. É importante salientar que o ProjEdur, para além dos conteúdos teóricos ministrados em sala, também é um espaço de sociabilização e formação de jovens dentro de uma perspectiva social de inclusão”, conta Mateus
As sementes do ProjEdur seguem sendo plantadas. Para as irmãs Brenda Soares, 21, e Beatriz Soares, 18, moradoras do Nordeste de Amaralina, a instituição ensina conteúdos que não foram abordados na escola.
“A gente tem aula de tudo: física, redação, geografia, literatura, matemática, filosofia. Tenho aprendido muitas coisas que não vi no colégio e também não sabia”, conta Beatriz, estudante do terceiro ano do ensino médio.
Brenda, que já concluiu o ensino médio e tentará o Enem pela segunda vez, sente que este ano será melhor. “Trabalho como jovem aprendiz e conciliar os estudos fica muito puxado, com o horário noturno do curso consigo acompanhar as aulas com maior tranquilidade. Tenho aprendido muitas coisas novas e estudar ficou mais fácil. É um projeto muito bom que vai me ajudar a entrar na faculdade de Gastronomia”, explica
Para Beatriz, a qualidade didática dos educadores ajuda na compreensão dos assuntos. “Os professores são bons, buscam interagir com os alunos e estão preocupados com a participação de todos. Revisamos questões do Enem para ter uma base para a prova”.
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Embora não tenha decidido qual curso universitário seguir, Beatriz se diz confiante em relação ao processo seletivo ao observar os exemplos de outros alunos. “Quero cursar administração ou nutrição e vendo outras pessoas do projeto passando na universidade, percebo que sou capaz”.
Com uma segunda seleção de estudantes prevista para junho, após os festejos de São João, o ProjEdur segue firme em seu propósito de alcançar mais jovens por meio da educação.
“Sonho com um futuro onde a educação de qualidade seja acessível a todos, impulsionando a realização de sonhos e construindo uma sociedade mais justa e próspera. Defendo o investimento na educação como prioridade fundamental para alcançar essa transformação”, diz Maiane.
Para acompanhar as atividades do pré-vestibular, basta acessar o @projedur no Instagram e também o site https://projedur.wixsite.com/projedur.
Reportagem e fotos de Bruna Rocha. Edição de Cleber Arruda e Rosana Silva
