Divulgada este mês, a pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) revelou que os pacientes não conseguem obter cuidados nos serviços de saúde
Cerca de 91,1% dos pacientes relataram, pelo menos, um sintoma de Covid longa na cidade do Rio de Janeiro. Foi o que apontou a pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), realizada em parceria com a Escola de Saúde Pública de Harvard e a Escola de Economia e Ciências Políticas de Londres, divulgada nesta semana. Os dados foram coletados entre novembro de 2022 e abril de 2024.
O levantamento identificou uma alta prevalência dos sintomas pós-Covid, como fadiga, mal-estar pós-exercional, dor nas articulações, alterações no sono e comprometimento cognitivo, dormência, ansiedade e depressão. Ao todo, somente 8,3% dos pacientes tiveram o diagnóstico de Covid longa. Além disso, os parcientes entrevistados também se queixaram da dificuldade de obter cuidados nos serviços de saúde do município.
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Os entrevistados também indicaram dificuldade no acesso a uma clínica especializada na Covid longa ou um serviço de reabilitação. O mesmo aconteceu quando buscaram cuidados para saúde mental. Ao todo, 43,1% não conseguiram acesso. Além disso, eles relataram impactos negativos significantes em suas vidas, tais como: não poder trabalhar ou ter de reduzir as horas de trabalho, não realizar atividades da vida diária, não poder acessar os cuidados de que precisavam por meio do SUS e gastar frequentemente a renda reduzida em serviços privados e medicamentos.
A coordenadora do projeto no Brasil, Margareth Portela, esclareceu que o estudo foi uma iniciativa internacional, interdisciplinar e com engajamento de pacientes. “O estudo buscou, especialmente, identificar as necessidades, o uso e as barreiras de acesso aos serviços de saúde. Realizamos 651 entrevistas com pacientes hospitalizados durante o quadro agudo da doença ou, em alguns casos de óbito ou dificuldade de participação direta dos pacientes, com seus representantes”, conta a pesquisadora da ENSP e coordenadora do projeto no Brasil, Margareth Portela.
O estudo revelou que aproximadamente 50% dos participantes relataram precisar de serviços de saúde para condições que apareceram ou pioram após a Covid-19 nos seis meses anteriores à entrevista. Os serviços mais necessários foram atendimento médico especializado, farmácia, cuidados ambulatoriais na atenção primária e serviços laboratoriais.
De acordo com as autoras do estudo, estima-se que a Covid longa afete milhões de brasileiros e tenha um impacto desproporcional sobre as populações marginalizadas que já enfrentam dificuldades para ter acesso a cuidados de saúde de qualidade.
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