Os casos de Covid-19 no Amazonas aumentaram seis vezes nos primeiros dias de novembro na comparação com o mesmo período em outubro. E a causa dessa explosão é uma subvariante denominada BE.9, identificada pela equipe da Fiocruz-Amazônia, que tem mutações parecidas com outra subvariante, a BQ.1, e fez os casos explodirem nos Estados Unidos e Europa. A BE.9 do Amazonas é uma evolução da sublinhagem BA.5.3.1.; esta, por sua vez, é uma ômicron da linhagem BA.5.
Segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), foram registrados 1.440 casos da doença de 1º a 9 de novembro ante as 243 infecções de Covid-19 no Amazonas de 1º a 9 de outubro, o que representa um aumento de 492,6%. A explosão de casos preocupa em um cenário onde apenas 38% da população amazonense tomou a terceira dose e 13%, a quarta dose, de acordo com levantamento da FVS.
Segundo o virologista Felipe Naveca, da Fiocruz Amazônia, o aumento de casos no Amazonas está associado a outras variantes, como a BA.5.3.1 e às novas mutações e não à BQ.1.
“As autoridades de Vigilância na Europa estimam que no começo de 2023 a BQ.1 será responsável por 80% dos casos no continente europeu. No Brasil, podemos esperar um cenário semelhante, mas ainda precisamos ver se outra linhagem, como a BA.5.3.1, que surgiu no Amazonas, não vai ocupar esse lugar. No entanto, não é esperado um aumento de casos graves”, disse ele à Amazônia Real. A linhagem BA.5.3.1 é agora chamada de subvariante BE.9, identificada no Amazonas.
No Instagram, o titular da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), Anoar Samad, informou que a nova onda de infecções coloca em estado de alerta todas as autoridades sanitárias. Segundo o secretário, mais de um milhão de amazonenses ainda não tomaram as doses de reforço da vacina contra o novo coronavírus, e cerca de 500 mil pessoas não tomaram a 1° dose, o que pode interferir no aumento de casos de internações nos hospitais.
Anoar Samad disse que os órgãos de saúde estão alertas com a chegada do período chuvoso, conhecido regionalmente como “inverno amazônico”, quando é registrado um aumento de doenças respiratórias. “É urgente, portanto, os faltosos procurarem os postos de vacinação das prefeituras para, principalmente, completarem suas doses de reforço. Não esperem os casos aumentarem mais ainda para se vacinar”, escreveu o secretário da Saúde.
Até o momento, apenas 13,6% da população amazonense tomou a segunda dose de reforço, conhecida como quarta dose, segundo o Vacinômetro do Amazonas divulgado pela FVS-CP. O Boletim Epidemiológico da Covid-19 no Amazonas, divulgado na última sexta-feira (11) destaca que 96% dos pacientes hospitalizados pela doença em Manaus, nos últimos 14 dias (26 de outubro a 8 de novembro), não possuem esquema vacinal completo. A edição analisa o período dos últimos dois meses, destacando os últimos 14 dias (26 de outubro a 8 de novembro)
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Conforme a nota técnica divulgada no domingo (13), pelo Ministério da Saúde, entre 6 e 11 de novembro houve um aumento de 120% de diagnósticos para a doença no Brasil, considerando a média móvel dos últimos sete dias em relação ao mesmo cálculo dos sete dias anteriores: 8.448 testes positivos ante os 3.834. Desses casos, 40 são da sublinhagem BQ.1. No Amazonas, foi registrado 1 caso até o momento da BQ1. A equipe da Fiocruz-Amazônia detectou que mais de 90% dos sequenciamentos pertencem à subvariante BE.9.
De acordo com a nota do Ministério da Saúde, o crescimento de casos de Covid-19 está relacionado a fatores como o relaxamento no uso de máscaras, aumento das aglomerações (inclusive no período eleitoral), queda da imunidade dos vacinados e a diminuição da cobertura vacinal.
Variante BE.9
A outra variante da ômicron, a BQ.1, foi sequenciada pela equipe do virologista Naveca e também identificada no Amazonas no dia 20 de outubro. O primeiro óbito causado pela nova variante foi registrado em São Paulo, no último dia 8, em uma mulher de 82 anos.
O virologista Felipe Naveca alertou que na Europa e nos EUA houve aumento de casos de BQ.1. e a expectativa que ela seja predominante em países da Europa.
“As autoridades de Vigilância na Europa estimam que no começo de 2023 a BQ.1 será responsável por 80% dos casos no continente europeu. No Brasil, podemos esperar um cenário semelhante, mas ainda precisamos ver se outra linhagem, como a BA.5.3.1, que surgiu no Amazonas, não vai ocupar esse lugar. No entanto, não é esperado um aumento de casos graves”, disse ele à Amazônia Real.
Felipe Naveca destacou o Amazonas é o estado com a maior cobertura na vigilância genômica do Sars-CoV-2, ou seja, tem o maior número de genomas sequenciados dividido pelo número de casos confirmados (1.354 a cada 100 mil), que é o critério utilizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Foi a Fiocruz-Amazônia que solicitou ao comitê internacional de classificação de linhagens (Pangolin, no Reino Unido), que fosse criada uma designação própria para a BA.5.3.1, que agora é chamada oficialmente de BE.9.
O epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia, aponta que os sequenciamentos genéticos feitos pelo instituto até a data desta reportagem, mostravam que a BQ.1 estava longe de ser a responsável pelo aumento de casos.
“Em Manaus, a BQ.1 teve pouco impacto ou pelo menos foi pouco identificada nos sequenciamentos genéticos”, afirmou. Orellana afirma que ainda não há estudos sobre como a nova variante estará se comportando no Amazonas nas próximas semanas.
Felipe Naveca explica que a BQ.1 possui mutações que a ajudam a escapar da resposta imunológica das vacinas e infecções anteriores e tem transmissão maior do que as outras linhagens que já circulam “por conta de mutações que aumentam a ligação às nossas células e promovem o escape da imunidade”.
De acordo com a Fiocruz-Amazônia, ” as duas subvariantes (BQ.1 e BE.9) compartilham algumas das mesmas mutações, mas que ambas não parecem provocar o aumento do número de casos graves, ao menos até o momento”.
O virologista também observou que a baixa cobertura vacinal facilita o surgimento de novas cepas da Covid-19. “Precisamos aumentar a cobertura das doses de reforço para diminuir os casos e, assim, reduzir as chances do surgimento de novas variantes”, afirma.
Naveca acredita na importância de usar uma vacina de segunda geração, na qual a variante ômicron já seja contemplada. Ainda sob avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), essa vacina não está disponível para a população.
Doses de reforço
Ethel Maciel, doutora em epidemiologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), disse no Twitter na semana passada que anticorpos conferidos pela quarta dose diminuem com 13 semanas de aplicação e que, sem a vacina ambivalente, é preciso iniciar a quinta dose para alguns grupos de risco. Em alguns estados, as autoridades já estão aplicando a quinta dose de reforço, como imunodepressivos e idosos. É o caso do governo do Rio de Janeiro.
Em nota enviada à agência Amazônia Real, a SES-AM informou que a quinta dose já está sendo aplicada desde agosto nos pontos de vacinação do estado, mas somente em pessoas com “mais de 18 anos com alto grau de imunossupressão”.
Fazem parte deste grupo prioritário pessoas que apresentam imunodeficiência primária grave, pessoas que fazem quimioterapia para câncer, transplantados de órgão sólido ou de células tronco hematopoiéticas (TCTH), pessoas que fazem uso de drogas imunossupressoras, pessoas vivendo com HIV/Aids, e outras condições que estão elencadas na nota técnica 221/2022, do Ministério da Saúde.
Em Manaus, as autoridades instalaram 75 pontos de vacinação contra a Covid-19, para dar continuidade a ampliação da cobertura vacinal na cidade. Os postos atendem tanto os que podem receber as doses de reforço quanto para quem tem direito à quinta dose.
De acordo com as autoridades de saúde, o Amazonas apresentou variação na média diária de casos de Covid-19. Ao todo, foram 2.242 infecções nas últimas duas semanas. Neste período analisado, houve redução de 36% (de 120 para 77 casos) no número médio diário de casos registrados na capital, e aumento de 275% (de 16 para 60 casos) no interior.
Atualmente, são 16 pacientes internados em leitos de UTI e 33 pacientes em leitos clínicos na capital. A maioria das hospitalizações são de pessoas na faixa etária de 60 a 79 anos, chegando a 21% dos casos.
Ainda no mesmo período, foram hospitalizados 157 pacientes, sendo 132 com idade elegível para vacinação contra a Covid-19 (a partir de 3 anos de idade). Desses 132 pacientes internados, 96% (127) não possuem o esquema vacinal atualizado, incluindo a aplicação de doses de reforço. Cerca de 30% (39) não tomaram nenhuma dose da vacina, 5% (6) não informaram o status vacinal e 65% (87) tomaram pelo menos uma dose da vacina. Ainda entre os que tomaram uma dose da vacina, 95% (83) também não têm esquema vacinal atualizado.
Foram registrados cinco óbitos causados pela doença nessas últimas duas semanas. Desses, quatro são de Manaus e um do município de Urucurituba, interior do estado. Nos dois primeiros anos da pandemia, o Amazonas foi epicentro de duas graves crises sanitárias, que resultaram em duas ondas de infecções e mortes, quando centenas de pacientes morreram por falta de UTI. Também foi no estado que a variante P1 foi primeiramente detectada no mundo.
Aglomerações e baixa imunização
Em nota enviada à Amazônia Real, apesar do aumento de infecções, a FVS-RCP destaca que não há impacto nas redes pública e privada nem no perfil epidemiológico dos óbitos pela doença. “A rede de saúde segue preparada para atender casos suspeitos de Covid-19”, diz a fundação.
Na capital do Amazonas, a prefeitura pretende ampliar o acesso da população aos testes rápidos para detecção da Covid-19, segundo boletim geral enviado à imprensa. O número de Unidades Básicas de Saúde (UBSs) que ofertam o serviço aumentou de 40 para 45 estabelecimentos. O teste rápido de antígeno deve ser solicitado quando os sintomas gripais (febre, dores de cabeça e no corpo) persistirem em até sete dias, no máximo. Após esse período, o teste não tem eficácia para determinar se a pessoa está com a doença.
A titular da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), Shádia Fraxe, afirma no boletim que a testagem é uma estratégia importante para acompanhar as mudanças do cenário epidemiológico local, mas reforça a importância de continuar seguindo os cuidados que foram incorporados à rotina, como o uso de máscara e a lavagem frequente das mãos.
“A testagem é importante para sabermos como a doença está se manifestando em Manaus e, a partir desses dados, tomarmos as medidas necessárias para a sua contenção, se for o caso. Mas, tanto quanto a testagem, as vacinas também são uma estratégia de enfrentamento da Covid. É preciso atualizar o esquema vacinal, para que as novas variantes não encontrem um ambiente favorável para sua proliferação”, disse Shádia Fraxe.
Para Jesem Orellana, o avanço da nova onda de contágios no Amazonas se deve “à falsa sensação de fim da pandemia, ao período chuvoso que já se iniciou e as intensas aglomerações decorrentes do período eleitoral, em contexto de números preocupantes de pessoas não vacinadas, com esquema incompleto ou com a dose de reforço em atraso”.
O pesquisador afirma que há aumento de casos, ainda que não acompanhados do aumento de internações para casos graves ou mesmo de mortes, mas que é necessário que as medidas de prevenção sejam reforçadas. “Sobretudo em relação ao uso de máscaras em ambientes fechados, desinfecção e higienização das mãos, evitando aglomerações e sempre atentando para a necessidade inadiável da vacinação em dia”, alertou.
Orellana ressalta a necessidade de se manter a permanência das vacinas contra a Covid-19, tal como a vacina contra a gripe (causada pelo vírus influenza), anualmente atualizada e direcionada para grupos de maior risco como idosos e gestantes.
“As vacinas contra a Covid-19 já comprovaram sua eficácia e seguem sendo altamente efetivas na prevenção de casos graves da doença e, principalmente, de mortes, tornando o seu uso, mais do que nunca, como arma fundamental para salvar vidas”, concluiu.
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