Couro ilegal da Amazônia abastece grifes de luxo na Itália, revela estudo

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Grifes de luxo internacionais estão conectadas com desmatamento ilegal na Amazônia. Boa parte do couro usado em bolsas de luxo, sapatos e estofados de automóveis de alto padrão tem origem no Brasil, que é o maior exportador mundial de couro cru e semiacabado, fruto de desmatamento, ocupação ilegal de terras e violações de direitos humanos. Os dados são da ONG inglesa Earthsight, divulgados na última terça-feira (24).

O Brasil exportou US$ 1,3 bilhão em couro bovino em 2023, países como Itália, Alemanha e China foram os principais destinos do material. O processo começa com a pecuária, quando o gado criado em áreas desmatadas ilegalmente fornece carne e couro. Na exportação, esse couro é comprado por curtumes brasileiros, muitos deles certificados apenas parcialmente ou sem controle de origem.

Nem todo couro se rastreia da forma correta. Lojas de grife tem impacto direto com desmatamento ilegal na Amazônia / Foto: Freepik

De acordo com a investigação da ONG britânica, couro de fazendas ilegais do Pará e Mato Grosso chegou a ser rastreado em produtos da Timblerland, Coach,Prada, Louis Vuitton e BMW e há um padrão sistemático de lavagem de origem no setor.

Existe um problema no sistema de rastreamento, que embora frigoríficos usem sistemas como o Guia de Trânsito Animal (GTF) e o Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Bubalinos (SISBOV), os documentos rastreiam somente a última fazenda de origem do animal. Isso permite que o gado seja remanejado de áreas consideradas ilegais e “lavado” em fazendas regulares.

Além do desmatamento, as denúncias também incluem trabalho análogo à escravidão. De 2018 a 2023, mais de 2.100 trabalhadores foram resgatados em fazendas de pecuária ligadas à cadeia do couro, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Marcas citadas no relatório

A Earthsight e o jornal The Guardian identificaram várias marcas que utilizam couro brasileiro de forma opaca:

  • Coach (Tapestry Inc.): 70% do couro vem do Brasil. A empresa afirmou adotar padrões éticos, mas não divulga fornecedores;
  • Prada: Adquiriu couro da JBS Couros, empresa que já foi multada por desmatamento;
  • LVMH (Louis Vuitton, Fendi, etc.): Embora prometa rastreabilidade, não há provas de exclusão de fornecedores ilegais;
  • BMW: Utiliza couro brasileiro nos bancos de seus modelos de luxo. Após denúncias, anunciou revisão de fornecedores.

Em nota ao New York Times, o grupo Louis Vuitton disse ter “tolerância zero com desmatamento ilegal”, mas admitiu que “a rastreabilidade total ainda não é possível em todos os casos”.

Caminhos possíveis e consumo sustentável

Em 2023, a União Europeia aprovou uma lei que proíbe a importação de produtos ligados ao desmatamento, incluindo couro. A lei entra em vigor plenamente em 2025, o que pressiona grifes a limpar suas cadeias de fornecimento.

Enquanto isso, ONGs e movimentos indígenas exigem reparação e consulta prévia quando atividades comerciais impactam seus territórios.

A rastreabilidade completa, certificação de origem livre de desmatamento, valorização de curtumes locais sustentáveis, consumo reduzido e consciente e o uso de biocouro e couro vegetal, são medidas essenciais para a mudança deste cenário.

O Pará sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em novembro.

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