O historiador e mestrando em Planejamento Urbano David Gomes considera que projeto de construção de um muro na Linha vermelha, um via expressa do Rio de Janeiro, “promove apartheid” na cidade. O governador do Estado, Cláudio Castro (PL), anunciou a medida na última semana, afirmando que a construção seria para “garantir segurança”.
Em entrevista exclusiva ao Notícia Preta, David analisou a situação, afirmando que acredita que os governadores “optam pela omissão”, quando o assunto é segurança pública. Conhecido como Derê Gomes, o historiador é diretor da Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj), e considera a ação ineficaz e preconceituosa.
“[A medida é] equivocada, racista e que não surtirá nenhum efeito concreto. Precisamos integrar as favelas à cidade e não promover um verdadeiro apartheid, como o Governador das Chacinas Cláudio Castro vem implementando”, diz o especialista.
Derê entende que esse muro é a materialização de um muro invisível que já existe, e que impede que serviços públicos, direitos sociais e investimentos entrem nas favelas para melhorar a vida nesses territórios.
A construção foi anunciada na última quarta-feira (09), no dia em que teve início às obras de recuperação do trecho cedido ao Estado, da Linha Vermelha. Neste dia, Castro falou sobre medida. “Um muro em locais onde são considerados de risco. Um muro de 30 centímetros para que a gente possa garantir a segurança de todos que passam por aqui”.
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Devido as mortes de crianças e demais inocentes em ações da polícia, o governador tem recebido críticas dos movimentos sociais e de alguns especialistas em relação a segurança pública no Estado, em especial na capital. O NP questionou se Derê acha que governadores dos Estados realmente conseguem administrar as polícias.
“Hoje não. As polícias estão fora de controle. Mas vale dizer, que as condições de controle existem, o que falta é vontade política dos governadores de exercer o controle e uma omissão vergonhosa do Ministério Público, que é a instituição com a prerrogativa constitucional do controle externo da atividade policial“.
Derê entende que uma parte expressiva da sociedade apoia o genocídio da juventude negra e favelada. Para ele, a extrema-direita é uma força política e ideológica “relevante, organizada e barulhenta”. Neste sentido, muitos governadores, inclusive progressistas, optam pela omissão para não se indispor com essa parcela da sociedade e não perder votos“, diz o especialista.
Com as movimentações, David concluiu dizendo que é preciso coragem para fazer o que é certo. “Precisamos dar um basta nisso, não podemos aceitar que vidas negras sejam negociadas em troca de votos”, disse. Na avalição do historiador o muro é a materialização de uma política já existente, de morte e segregação.
“No seu primeiro mandato, em pouco mais de um ano, o Cláudio Castro autorizou três das cinco maiores chacinas da história do Rio de Janeiro, por isso ficou conhecido como o ‘Governador das Chacinas'”, afirmou. Segundo Derê, que é nascido e criado no Complexo da Penha, “quem mora em favela e nos subúrbios na região metropolitana ou no interior sabe bem e sente na pele”.
Apesar de cobrar os governadores de Estados como o Rio de Janeiro e a Bahia, que tiveram episódios de violência nas últimas semanas, uma fala do presidente Lula (PT) também foi criticada por especialistas de Direitos Humanos, quando disse que “a polícia tem que saber diferenciar bandido de cidadão de bem”.
No entendimento de Derê, a fala de Lula foi aquém da expectativa de muita gente, mas destacou que, o presidente se posicionar contra essas ações policiais desastrosas no Rio de Janeiro e em outros estados têm uma importância simbólica imensurável. “É o Presidente da República cobrando publicamente os governadores a encontrarem soluções para o fim do genocídio”, afirmou.
Ele afirma que é preciso analisar a posição do presidente, de acordo com as ações concretas do governo. Na avaliação dele, nesse primeiro semestre, o saldo das medidas é positivo, e explicou sua análise citando e enumerando projetos que governo tem feito para diminuir a violência em conjunto com os movimentos sociais.
“O Ministério da Igualdade Racial com o Plano Juventude Negra Viva, O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania com a Caravana dos Direitos Humanos e a Secretaria Nacional de Periferias com o Periferia Viva e a Caravana das Periferias são a ponta de lança de um processo de escuta da sociedade civil organizada e dos movimentos sociais para a construção de políticas robustas e concretas de enfrentamento ao genocídio do povo preto“ concluiu.
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