Rituais de matriz africana fazem parte do Carnaval de Pernambuco

Sumaia-Villela-Agencia-Brasil.jpg

Recife - Ancestrais do povo negro são reverenciados na Noite dos Tambores Silenciosos no Pátio do Terço, no bairro de São José (Sumaia Villela/Agência Brasil)

A agenda oficial do Carnaval de Pernambuco conta com rituais que valorizam as raízes africanas. Afoxés evocam a proteção dos Orixás em cerimônias de purificação para transmissão de boas energias para a festa de Momo. 

A Noite dos Tambores Silenciosos reúne os grupos de maracatus do estado. As nações de maracatu desfilam pelo Sítio Histórico de Olinda e seguem em direção ao pátio da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Este ano, nove nações com batuqueiros, reis, rainhas, yabás e caboclos de pena fizeram o cortejo. A cerimônia foi conduzida pelo babalorixá Mestre Ivanildo de Oxossi. Os rituais são gratuitos e abertos ao grande público.

Ancestrais do povo negro são reverenciados na noite dos Tambores Silenciosos no Pátio do Terço. Foto: Sumaia Villela/ Agência Brasil

A Noite dos Tambores Silenciosos de Recife acontece no domingo de Carnaval, e conta com encontro dos blocos de samba-reggae, no Pátio do Terço, epicentro da liturgia da ancestralidade negra do Carnaval.

Calunga

As calungas são elementos sagrados do  candomblé. As bonecas simbolizam uma rainha que já passou para o mundo dos mortos. O maracatu só sai com a boneca negra feita em madeira e toda enfeitada.

A cerimônia de sincretismo religioso é uma celebração aos eguns, que são os espíritos. À meia-noite, as alfaias param de tocar. A celebração segue com cânticos e homenagens para Iansã, orixá feminina também conhecida como Oyá.

Iansã é responsável por fazer a conexão entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. As nações de maracatu reverenciam e pedem proteção aos espíritos dos antepassados para que a população possa ter um Carnaval de paz.

A Cerimônia Ubuntu acontece um dia antes da abertura oficial da festa, e começa a ser preparada no Núcleo Afro do Pátio de São Pedro, área central do Recife. Este ano, 26 afoxés  se reuniram na sede para preparar o banho de ervas conhecido por Amaci ou Omieró. A principal avenida onde se brinca o carnaval, a Rio Branco, recebe o banho. 

O rito é compartilhado pelas ialorixás e pelos babalorixás dos afoxés. O Ubuntu reúne todas as nações ao cair do sol, num espetáculo que representa a herança africana, cheio de ritmos, cores e bênçãos.

A cerimônia representa a herança africana. Foto: Camila Leão (PCR Imagem/Acervo)

A Terça-feira Negra foi criada há mais de 20 anos pelo Movimento Negro Unificado (MNU). Seu objetivo é difundir e estimular reflexões a respeito da influência afro nas expressões artísticas de Pernambuco. O projeto sempre ganha três edições especiais, programadas para as semanas que antecedem o Carnaval. O evento é sempre gratuito.

Diversas vertentes da cultura negra são fortalecidas com a tradição, como o maracatu, coco de roda, afoxé, reggae e hip hop. A Terça Negra acontece no Pátio de São Pedro, centro do Recife.

Galo Preto Ancestral

Acompanhar o galo ‘subir’ também faz parte dos rituais do Carnaval de Pernambuco. Este ano o Galo da Madrugada traz a causa antirracista e desfila pela 44ª vez. Aos seus pés da escultura está escrito “Recife sem racismo” e “Xô, preconceito”. Aguardado com alegria pela população, o galo pesa sete toneladas e tem 28 metros de altura. Centenas de pessoas assistiram de perto quando a aobra foi erguida ao som do bloco Afro Daruê Malungo, pioneiro na preservação e transmissão de ensinamentos da cultura de matriz africana.

Saiba mais: ‘Galo Preto Ancestral’ é o tema da alegoria do Carnaval do Recife deste ano

O Galo da Madrugada foi criado em 1978 e desfila sempre com carros alegóricos e trios elétricos, na área central de Recife. Em 1994, o bloco ganhou reconhecimento mundial como o maior do mundo pelo ‘Guiness Book’, quando 1,5 milhão de pessoas desfilaram no sábado de Zé Pereira.

Galo da Madrugada celebra cultura negra. Foto: Diego Nigro (PCR Imagem/Fotos Públicas)

Izadora Feitosa

Izadora Feitosa

Jornalista, nordestina de Recife - PE. Pós-graduanda em Assessoria e Gestão da Comunicação, escreve sobre cultura, sociedade, processos de comunicação e TEA

0 Replies to “Rituais de matriz africana fazem parte do Carnaval de Pernambuco”

Deixe uma resposta

scroll to top