O incêndio que atingiu a Maximus Confecções, na Zona Norte do Rio, na última quarta-feira (12), relembra um histórico preocupante de tragédias semelhantes que marcam o Carnaval do Rio de Janeiro, que já contabiliza mais de sete casos de incêndios envolvendo escolas de samba entre 1988 e 2011. Além dos prejuízos materiais incalculáveis, esses episódios expõem o descaso com as condições de trabalho de profissionais essenciais para a festa, como as costureiras, que frequentemente enfrentam jornadas exaustivas e ambientes precários.
Entre 1988 e 2011, sete incêndios atingiram barracões de escolas de samba cariocas, destruindo fantasias, alegorias e sonhos que levam meses para serem construídos. O mais recente, ocorrido ontem, traz à tona não apenas a fragilidade da infraestrutura desses espaços, mas também o impacto direto na vida dos trabalhadores que dependem do Carnaval para seu sustento.
Em 1988 a União da Ilha do Governador teve as suas fantasias queimadas em um incêndio que atingiu o barracão da escola e em seguida, no mesmo ano, a Beija-Flor também teve parte do barracão em chamas.
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No ano de 1992, logo no final do desfile, o último carro alegórico da Viradouro pegou fogo. Foi nesse ano, depois desse ocorrido, que as escolas passaram a adotar medidas mais rigorosas de segurança contra os incêndios. Na época, a escola que se considerava campeã, precisou parar o desfile enquanto os bombeiros apagavam o fogo. Com isso, a escola terminou o desfile com 13 minutos de acréscimos e ficou em nono lugar.
Mais um incêndio atingiu a escola do Salgueiro em 1992. A escola, que estava nos seus preparativos para o carnaval de 1993, perdeu 1,5 mil fantasias e ainda teve a sua escola mirim atingida. Materiais e equipamentos da escola se perderam num fogo que durou 20 minutos.
A escola Império Serrano sofreu em 1997 em um incêndio que atingiu o barracão momentos antes do desfile. A escola acabou sendo rebaixada do Grupo Especial e terminou a disputa em penúltimo lugar. Já em 2001 foi o barracão da Imperatriz Leopoldinense que pegou fogo mas que apesar do ocorrido, conseguiu conquistar o seu tricampeonato na época ficando um ponto acima da Beija Flor.
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Em 2011, um incêndio atingiu os barracões da Portela, União da Ilha e Grande Rio que quase perderam todo o material do desfile. Segundo fontes como o G1, ao todo foram 8 mil fantasias perdidas e um prejuízo de R$10 milhões. As escolas que não foram afetadas pelo incêndio se solidarizaram e contribuíram com adereços, fantasias e mão de obra.
Com das melhorias e modernizações nas estruturas e criação da Cidade do Samba, o número de incêndios já reduziu consideravelmente. Na própria Cidade do Samba há uma base do Corpo de bombeiros e um sistema de combate aos incêndios. Apesar disso, os incêndios refletem não apenas perdas materiais, mas também as condições em que muitas vezes esses trabalhadores se encontram.
Incêndio da Fábrica em Ramos
Segundo funcionários que trabalhavam na Maximus Confecções, o espaço funcionava 24h por dia e as aderecistas se revezavam a até dormiam nos ateliês para atender as demandas a poucos dias do desfile. A fábrica foi interditada pela Polícia Civil e, ainda na quarta feira (12), a auditora-fiscal do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE), Ana Luiza Horcades, afirmou ao jornal O Dia que há grandes indícios de que os trabalhadores não tinham vínculos empregatícios.
O jornal O Dia também destacou que, além da falta de planejamento e avaliação de riscos, os funcionários eram expostos a situações perigosas, como trabalhos em altura sem equipamentos adequados e o uso de andaimes irregulares. O espaço apresentava aberturas desprotegidas nos pisos e no poço do elevador, ampliando os riscos de acidentes.