“Capoeiristas são perseguidos até hoje”, pontua multiartista que leva a capoeira para pessoas LGBTQIAPN+

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O Dia do Capoeirista, comemorado neste dia 03 de agosto, destaca a importância da prática popular e ancestral. Apesar da data e da Roda de Capoeira ter sido declarada Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2014, a CEO do coletivo Capoeira para Todes, Puma Camillê, pontuou em entrevista ao Notícia Preta que atualmente pessoas capoeiristas continuam sendo perseguidas. Além disso, ela enxerga uma hierarquização entres os próprios capoeiristas e os estilos de capoeira.

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“Acredito sim que pessoas capoeiristas são perseguidas até hoje. Levando em consideração os agravantes de qual estilo de capoeira ela representa na vida, o capoeirista consegue ser o próprio capataz de outros capoeiras, mas isso vai obviamente depender de fatores físicos, geográficos, raciais, sociais, de gênero etc”, disse Puma.

Puma é palestrante, modelo e multi-artista. Ela entende que na Capoeira estilizada, a não ser que a pessoa tenha interesse em competir, treinar e ter uma percepção militarizada e hierarquizada do corpo, uma pessoa LGBTQIAPN+ não consegue ter tanto acesso quanto em outros estilos de capoeira.

“A pessoa LGBT que tá em torno da cultura pop, muitas vezes não se enxerga na capoeira, a população LGBT tá indo em direção a questões que estão no centro, e muitas vezes a capoeira está indo em direção ao rural, isso distancia… Mas a sensação que tenho é que a população LGBT é só um pedaço da roda que foi retirado dela… A população LGBT pode servir de ponte e comunicação” , disse.

CEO do coletivo Capoeira para Todes, Puma Camillê /Foto: Anthony Araujo/Divulgação.

Puma tem um jeito muito específico de se movimentar quando joga capoeira, mas não considera que seja um novo estilo. Aliás, demonstra grande reverência pela maneira diversificada que a capoeira permite de ser.

“A capoeira é isso, desperta jeitos, trejeitos, são entidades totalmente diferentes. É o coronel, o carvoeiro a pessoa ribeirinha, todos se encontram para fazer um jogo coletivo e trocar histórias. Aí chegou uma travesti pra trocar uma história, né?! Eu sou só uma figura que a capoeira não tinha na roda, pessoas trans não tem registros histórico em imagem na capoeira, então as pessoas não conseguem entender o que se passa. Eu jogo o que o fundamento do Berimbau toca, respeitando o jogo de Angola, Regional, Iuna e etc”, explica.

Para Camillê, as características centrais entre prós e contras de cada estilo de capoeira são:

  • A tentativa de se organizar em volto a saberes tradicionais, mantê-los de forma a descolonizar hábitos .
  • Super valorizar as características patriarcais, num ambiente onde todo mundo é igual, questões raciais e de gênero não são uma grande questão e servem aos interesses do capitalismo sem tanto olhar crítico.
  • A necessidade de sobrevivência , recorrendo a estratégias de batalha praticada com saberes tradicionais organizados, rituais específicos , musicalidade peculiar, para trabalharem a competição e cooperação.

Capoeira nas Olimpíadas?

Questionada se a capoeira tem potencial para estar nas Olimpíadas, Puma afirma que não a vê dessa forma.

“Reconheço como o esporte realmente salva vidas, mas por muitos motivos não enxergo a capoeira enquanto esporte. Ela cabe nestes moldes, pois como já dizia mestre Pastinha, “capoeira é tudo que a boca come “, ela é como um camaleão que precisa se adaptar nas adversidades da vida. Mas sabemos que deste prato, não cabem os interesses de quem lutou por liberdade, não são os da comunidade da capoeira Angola nem da Regional”, diz Camillê.

Para ela, o foco não pode estar em quem perde ou em quem ganha, nem no melhor ou no pior, e acredita que isso seja uma forma de hierarquia e competição próprias do capitalismo. A capoeirista explica que diferente da cultura cristã, a cultura da capoeira é oriunda de percepções politeístas afropindoramicas, hierarquizada na sabedoria das figuras de mais idade que partilham verdadeiros ensinamentos de vida em roda ocupando diferentes lugares de representação em roda, onde não há limite de pessoas.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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