“O cabelo representa muito a gente”, diz Mayara Lima, Rainha de Bateria da Paraíso do Tuiuti

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Carnaval é tempo de exaltação à cultura negra e popular brasileira e nada como uma Rainha de bateria de uma das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro para falar de cabelo, corpo, disposição para curtir uma das maiores festas populares do mundo.

O Notícia Preta bateu um papo com a Rainha de Bateria da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, Mayara Lima, que falou sobre sua trajetória no carnaval e sobre os seus cuidados com diários. Ela passou por uma transformação capilar especialmente para o carnaval e conta que se sente muito bem com seu cabelo e seu corpo.

Mayara Lima ressalta a importância do cabelo para as mulheres negras – Foto: Cristian Monassa – Film In

“Eu acho que temos o direito de ser quem quisermos ser, e o cabelo representa muito a
gente em cada momento da nossa vida, pra tudo né? Em relação a autoestima, a bem-estar, ah, estou me sentindo bonita! E acho que nessa nova fase de rainha, escolhi uma cor que vai me representar e que vai combinar com minha fantasia”
, comemora.

Ela revela também que é seu primeiro ano como rainha de bateria. Em 2022, Mayara saiu como princesa da bateria da escola de São Cristóvão e pensou o cabelo exatamente para o cargo de Rainha. “A mudança de cabelo é uma forma de celebrar isso e nada melhor do que contar com uma marca que é líder em coloração para cuidar dos meus cachos”, completa.

Em 2022, Mayara se destacou como princesa ao postar vídeos dançando sincronizada com a bateria da Paraíso do Tuiuti. Ela lembra também que as maiores incentivadoras da sua carreira foram sua mãe e sua avó.

“A minha avó, que não está mais aqui entre nós, ela foi rainha de bateria, e meu tio ele é mestre de bateria e é presidente de uma escola lá na cidade de Deus. Então pensando em conexão sanguínea, vem deles dois, mas que levou para o samba foi minha mãe, por curiosidade e foi se apaixonando também”, revela.

Transformação

Mayara é uma mulher que abusa das laces, tranças, perucas e ela mesma diz que gosta dessas mudanças, mas sempre mantém seu cabelo natural intacto. Para ela, os cabelos são também forma de empoderamento feminino.

“Meu cabelo natural não mudo, mas eu sempre coloco lace, cabelos orgânicos então eu sou uma pessoa que gosta de mudar. E pra esse momento, deveria ter uma cor especial, com uma parceria especial e acho que é isso. E a mulher tem isso né, independente de cor, idade de tamanho, ela tem o direito de sentir melhor e o cabelo pode fazer toda a diferença. E eu sou assim, quando tem um cabelo novo, e falo: ‘MEU DEUS, ‘tô’ maravilhosa'”, brinca.

Mayara lembra que existe uma ligação entre seu cabelo e as lembranças da infância. Ela ressalta também que para chegar ao posto de Rainha, já passou pelos cargos de musa e princesa da Escola.

“Eu tenho uma frase que tenho pra mim e tudo na minha vida: Há tempo pra tudo, tudo tem que acontecer quando tem que acontecer, no tempo certo. E quando você volta atrás e relembra do cabelo que você tinha e dos sonhos que você tinha e ter um cabelo que remete a isso, caraca eu era aquela menina sonhadora que tinha o cabelo daquela cor, lembra? Meu sapato como era? E hoje em dia estou com a mesa cor de cabelo e agora eu sou RAINHA, passa um filme realmente na cabeça”, celebra.

“A Niely Cor & Ton me fez despertar isso, fico até com a voz engasgada porque realmente é uma coisa distante da nossa realidade. A gente que vive na favela, que não tinha condições para ter certas coisas, e hoje poder proporcionar algo que sua família nunca teve, é gratificante”.

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“Hoje posso proporcionar algo pro meu filho que não tive. Então, graças a Deus meu filho tem de tudo, e eu falo com o Arthur: ‘filho não é assim, mamãe não teve isso que você tem hoje, então saiba agradecer as coisas e tal’. Mas eu faço tudo por ele, é uma lembrança incrível”, reafirma.

Sabrina e Eduarda são passistas do Salgueiro e vão desfilar no domingo (19) – Foto: Cristian Monassa – Film In

Passistas Salgueiro

A Rainha de Bateria passou pela transformação assim como outras duas passistas da escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, Eduarda Apolinário e Sabrina Ginga. Mayara deixa uma mensagem para as duas que são mais novas e agradece à Niely Cor & Ton por realizar a tranformação.

O meu maior intuito à frente da bateria da Tuiuti vai além do cargo. É poder representar as meninas que sonham, sonharam e irão sonhar como eu sonhei um dia em ser rainha de bateria, ou até mesmo trabalhar com Instagram. Não vou deixar os sonhos dessas meninas morrer”, afirma.

“Eu quero muito agradecer a Niely Cor & Ton por está nos juntando, jamais imaginaria que seria isso tudo, porque, a gente conversa individualmente e quando eu soube que a elas viriam, fiquei muito, muito, muito feliz. A gente compartilha da mesma vivencia, das mesmas lutas e experiências, ainda mais na escola de samba”, finaliza.

Eduarda Apolinário é passista do Salgueiro e lembra que iniciou na Imperatriz Leopoldinense, mas não havia passistas mirins. Ela foi pioneira. “Não existia na imperatriz passistas mirins, e o diretor de passistas adultos me viu na quadra e falou:  você vai ser a primeira passista mirim da escola, daí foi eu e mais um menino, e para mim foi muito  importante”, relembra.

Ela fala ainda da experiência da transformação e conta que está bem ansiosa pelo resultado e para o carnaval. “Confesso que eu era loirinha né, ai pintei meu cabelo de tudo quanto é cor na adolescência, aí fui pro preto, e fiquei – e eu queria sair! E sair do preto com essa parceria com a Niely Cor & Ton, tá sendo incrível,  mudar de cor é uma renovação e ter essa parceria é a melhor oportunidade de sair do preto com os fios hidratados, sem danificar os cachos, então assim! TUDO e vou estar arrasando na avenida, salgueiro vai ficar pequeno para a gente”, celebra.

Sabrina Ginga, corógrafa e também passista do Salgueiro, e lembra que já havia pintado oc abelo de vermelho na adolescência e por influência da mãe. “Hoje eu tô com vermelho porque, quando eu era criança, minha mãe tinha cabelo vermelho então eu sempre quis também. Eu sempre ousei muito no cabelo, sempre foi uma ferramenta de expressão, assim como a dança”, afirma.

“Tem a Sabrina no palco e a Sabrina fora do palco. O cabelo funciona como uma ferramenta de dança, de cena, de palco. O cabelo foi uma maneira de me afirmar, de encontrar minha identidade, que ajudou minha autoestima”, acrescenta.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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