A busca por atendimento nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do Distrito Federal, por jovens com idade de 10 a 14 anos, registrou um aumento de 45,6%. É o que revela dados divulgados pela Secretaria de Saúde (SES/DF).
Entre 2023 e 2024, os atendimentos em saúde mental nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) tiveram um crescimento significativo de 33,47%. Porém entre os jovens de 10 a 14 anos, o aumento foi ainda mais expressivo. As principais causas incluem sintomas de ansiedade e depressão, sendo esta última frequentemente associada a comportamentos de automutilação.

Essa realidade é percebida tanto pelos próprios jovens, quanto por seus familiares e instituições educativas. “Os adolescentes chegam espontaneamente ou são direcionados por escolas e conselhos tutelares. E o CAPS opera com acesso livre, sem necessidade de agendamento”, explica Fernanda Falcomer, subsecretária de Saúde Mental do DF.
Um exemplo concreto é o caso de Thiago (nome fictício), um policial militar aposentado de 60 anos e pai de um adolescente de 16 anos. Isolado devido à doença do pai, que foi diagnosticado com Parkinson, o jovem desenvolveu depressão severa. A situação foi agravada por problemas como bullying na escola e dependência intensa de videogames, usados como uma via de escape da realidade.
“Eu percebi que tinha algo errado quando ele mal saía do quarto. Então, sugiram os comentários sobre pensar em desistir da vida”, contou Thiago, que acompanha o tratamento psiquiátrico do filho desde uma internação recente do jovem.
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Segundo Thaís Plácido, psicóloga da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF), a relação entre telas e ansiedade está diretamente ligada à redução das interações reais e ao aumento de estímulos sensoriais desintegrados da convivência humana presencial. “Isso repercute no sono, na atenção e no comportamento geral”, pontua.
Thaís, com ampla experiência no CAPS da Asa Norte e no Sistema Único de Saúde (SUS), reconhece que o cenário é preocupante. No entanto, ela também enxerga um lado positivo: “Estamos mais atentos à saúde mental e dialogamos mais sobre o tema. Isso possibilita que mais pessoas procurem ajuda e obtenham diagnósticos necessários”.
Ela frisa que o sofrimento emocional nem sempre é verbalizado. “A pessoa pode não dizer diretamente que está mal, mas demonstra por meio de irritação, tristeza, isolamento ou queda no desempenho escolar. Em casos graves, surgem falas relacionadas à questão de não querer viver.”
Esse panorama local reflete uma tendência global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% dos adolescentes enfrentam algum tipo de transtorno mental. Ansiedade figura como a oitava maior causa de doenças e incapacidades nessa faixa etária, seguida pela depressão na nona posição.
“Esse é nosso maior alerta epidemiológico”
No DF, a ansiedade lidera entre os transtornos registrados. “Esse é nosso maior alerta epidemiológico”, afirma Thiago Blanco, psiquiatra e referência técnica da SES-DF. Ele explica que nos jovens, o transtorno tende a surgir por meio de medos e preocupações exacerbadas que comprometem o desempenho acadêmico, os relacionamentos e a qualidade de vida em geral. O tratamento requer uma rede integrada de apoio com profissionais capacitados, suporte familiar e, em alguns casos, medicamentos.
O primeiro ponto de acolhimento começa nas unidades básicas de saúde (UBS’s). No DF, são 176 UBS’s que fornecem assistência psicossocial com triagem inicial, acompanhamento multiprofissional e encaminhamento para serviços especializados. Práticas integrativas como yoga, acupuntura, meditação e musicoterapia também fazem parte da oferta.
Para situações mais graves, o DF conta com 18 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), sendo quatro dedicados exclusivamente ao atendimento infanto-juvenil. Eles estão localizados na Asa Norte, Recanto das Emas, Sobradinho e Taguatinga. Os CAPS’s oferecem tanto escuta individual quanto coletiva, abrangendo os jovens e suas famílias.
Além disso, outros serviços complementares estão à disposição pela SES/DF. O Centro de Orientação Médico-Psicopedagógica (COMPP) atende crianças de até 11 anos, enquanto o Adolescentro foca em jovens dos 12 aos 17 anos. Ambos podem ser acessados mediante encaminhamento realizado pelas UBS’s.
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