“O brincar é fundamental para construir uma subjetividade potente”, diz criadora de bonecas negras

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O brincar é fundamental para construir uma subjetividade potente“. É assim que Jaciana Melquiades, fundadora do “Era uma Vez um Mundo”, define o poder que as brincadeiras possuem na vida de uma criança. Criadora de bonecas e bonecos negros, a empresária acredita que isso ajuda no desenvolvimento dos pequenos, principalmente dos que se reconhecem nesses brinquedos.

A gente está falando de uma criança que se vê e se reconhece no mundo. Se ela tem acesso a brinquedos que criem um nível de consciência racial, por exemplo, ela entende o quanto ela merece ser respeitada. Então ela acaba sendo uma criança que tem mais condições de entender quando está sofrendo algum tipo de violência“, diz ela com exclusividade ao Notícia Preta.

No dia a dia, crianças negras enfrentam também atitudes racistas, e seus desdobramentos. De acordo com a psicóloga Letícia Alvarenga, essa exposição a violência pode ser bastante prejudicial.

Crianças tendem a internalizar essas situações, o que pode trazer consequências psicológicas das mais diversas. Problemas com autoestima e autoimagem, diversos transtornos de ansiedade , transtorno de estresse pós traumático dentre outros problemas de maior complexidade“, aponta a especialista, que menciona as possibilidades de atuar contra essa realidade.

O trabalho preventivo que podemos fazer é conscientizar sobre a realidade, claro, adequando a linguagem para cada faixa etária, para que a criança não cresça com a ideia de que existe algo errado com ela que “justifique” todas as violências sofridas, para que ela esteja preparada para lidar com essa realidade sem naturalizar e também buscar criar um ambiente de afeto e fortalecimento da autoestima dessa criança“.

É dessa forma que a “Era uma Vez um Mundo”, de acordo com a Jaciana, que acredita que suas bocas atuam como ferramentas de conscientização racial para os pequenos. “Um criança mais consciente tem condições de reclamar dessas situações e isso é uma forma de proteger“.

Mas nem sempre elas tem condições de se defender. De janeiro a agosto deste ano, pelo menos 24 crianças e adolescentes foram mortos por armas de fogo na região do Grande Rio, segundo o Instituto Fogo Cruzado. A maioria delas, negras.

Para Jaciana, possibilitar futuros potentes, significa também, dar possibilidades das crianças se enxergarem em espaços diferentes dos quais elas tem acesso. Mas a empresária também reconhece que para mudar a realidade de muitas dessas crianças, ainda há muito para ser feito.

Se a gente imagina, a gente sonha. Se a gente sonha, a gente cria o desejo de realizar. Mas é óbvio que que tem outros fatores que precisam contribuir para que esse sonho se torne realidade, que conta com uma educação de qualidade, saúde, segurança, pois uma criança que tem uma vida ceifada pela violência, ela não tem mais a possibilidade de sonhar“, diz a empresária.

Leia também: Taxa de analfabetismo de crianças negras é maior que de crianças brancas no Brasil, aponta Unicef

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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