O carnaval de Belo Horizonte (MG), atualmente, é considerado um dos maiores do país em volume de pessoas e desfiles de blocos. Ao todo, são mais de 500 blocos, divididos em 7 dias de folia na capital mineira.
Alguns desses blocos são criados, dirigidos e formados apenas por pessoas negras, como é o caso do Babadan Banda de Rua, o Magia Negra e o Angola Janga. Eles resgatam a africanidade do carnaval e realizam cortejos pelas ruas de BH.
Formado por uma orquestra de sopro e percussão, o Babadan Banda de Rua mistura três tradições do povo negro de Minas Gerais, o candomblé, o Reinado e a sonoridade das Bandas de Minas. Em maio de 2020, o Babadan lançou seu primeiro trabalho, o álbum Anunciado, com seis faixas.
Para Juventino Dias, um dos fundadores da Orquestra, o Babadan tem o intuito de reverenciar a música de rua brasileira. “O bloco nasce para fazer um som que misturasse os instrumentos de sopros das Bandas de Minas com os tambores do candomblé e do Reinado Mineiro. Traz um repertório instrumental com composições e arranjos próprios com forte influência das festas e tradições populares de Minas”, afirma.
Já o Magia Negra, nasce com o objetivo de “desfazer feitiços racistas”, como diz o seu fundador, Camilo Gan. Criado em 2013, o bloco tem o intuito de reunir pessoas comprometidas no enfrentamento ao
preconceito étnico-racial relacionado ao povo de pele preta.
Atualmente, são 60 membros divididos entre músicos percussionistas, instrumentistas de sopros e dançarinos. Segundo Camilo, mesmo sendo um bloco que vem com o ideal de exaltar o povo afro-brasileiro, o mesmo não devolverá as práticas discriminatórias reforçadas por padrões fenotípicos.
“Sendo assim o bloco é aberto a pessoas de todas as etnias e nacionalidades que se interessarem em participar, não excluindo ninguém pela cor e muito menos pelo status econômico ou social”, comenta.
Com o tema “Tecnologia tradicional e o futuro ancestral”, o Angola Janga é um dos blocos afro mais tradicionais da capital mineira, nasceu em 2015, após uma episódio de racismo, sofrido pelo fundador do Angola, Lucas Jupetipe. Ele conta que estava tocando percussão em um bloco quando aconteceu o crime.
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“Eu estava tocando num bloco famoso da cidade, que até homenageia dois cantores negros. Estava na bateria e alguém puxou o meu cabelo pensando que era uma peruca. Puxaram meu cabelo e ficaram rindo”, conta Lucas, que usava o cabelo black power no dia.
Daí então, ele e a esposa, Nayara Garófalo, fundaram o bloco com a esperança de oferecer um local seguro para as pessoas pretas.
“A gente precisava de um espaço seguro, assim como existe um espaço seguro para as mulheres, para as questões LGBTQIAP+. Nós resolvemos criar um espaço exclusivamente para quem se autodeclarava negro”, afirma.