A historiadora, poeta, cineasta e intelectual Beatriz Nascimento é a escritora homenageada da Festa Literária das Periferias (Flup) em 2024. Nesta 14ª edição, o festival celebra uma obra que despertou outro imaginário brasileiro e se desdobrou numa nova geração de intelectuais e escritoras que transformam o cenário cultural.
A escritora Conceição Evaristo e a filósofa Helena Theodoro farão parte da homenagem à amiga e companheira de ativismo. No centro das discussões sobre a obra de Nascimento, a Flup vai trazer uma rede de 100 mulheres acadêmicas negras, criada por Thaís Alves Marinho e Rosinalda Simoni.
A programação anual vai promover a escuta dessas intelectuais em espaços periféricos da cidade do Rio de Janeiro. As histórias delas serão lançadas no livro com as 100 biografias, chamado “Dicionário Biográfico: Histórias Entrelaçadas de Mulheres Afrodiaspóricas”. Todas as ações do ano vão dialogar com a obra de Beatriz Nascimento, incluindo os quilombos, os terreiros, as narrativas orais preservadas pelas matriarcas, a poesia e o samba.
Ao homenagear Beatriz Nascimento, a Flup 24 traz o conceito de quilombo agregação, comunidade e luta como fundamento da sua programação anual.
“A palavra quilombo não existia como símbolo de estratégia e inteligência de sobrevivência, até Beatriz Nascimento”, explica Julio Ludemir, diretor fundador da Flup. “Queremos que sua obra seja cada vez mais conhecida, mais lida, mais publicada, que chegue ainda mais longe”, ressalta.
Abertura agenda Flup 2024
O evento de abertura da agenda anual da Flup 2024 acontece no dia 11 de maio. Conceição Evaristo e Helena Theodoro participarão da mesa “A noite não adormece nos olhos das mulheres”, mediada pela também escritora Bianca Santana. Na véspera do Dia das Mães, a Flup aproveita para discutir a intolerância religiosa com a presença de matriarcas.
A roda de conversa “Deixa a gira girar” reunirá a yalorixá, escritora e matriarca do Ilê Asé D’Oluaiyè, Márcia Marçal e a socióloga, escritora e matriarca da Casa do Perdão, Flávia Pinto. A cineasta pernambucana Natara Ney, vai mediar a mesa.
“Terreiro, Gira, encontro. Palavras familiares, palavras sagradas. Esta primeira gira da Flup é a possibilidade de ouvir importantes pensadoras sobre temas que nos afetam, dores em comum e também alegrias, desejos, projetos. Mulheres plurais”, destaca a cineasta, que também é curadora da programação do 11 de maio.
O Pagode da Gigi fechará a noite com uma roda de samba formada integralmente por mulheres, com a participação especial das cantoras Marcelle Mota e Nina Rosa, no berço do samba carioca.
Formação de escritores, roteiristas e poetas
O evento também marca a abertura das inscrições para a formação “Yabás, Mães Rainhas”, aberta ao público geral. Serão sete encontros presenciais, durante sete sábados consecutivos, em terreiros do Rio de Janeiro que cultuam cada uma das Yabás: Iemanjá, Oxum, Obá, Iansã, Nanã e Ewá, incluindo a entidade feminina Pombagira.
Os 50 participantes selecionados vão escrever contos a partir dos Itãs, relatos míticos que envolvam as Orixás femininas da cosmologia afro-brasileira. As obras vão compor o 31º livro lançado pela Flup.
“A existência, resistência de nossa cultura está nos terreiros, mães que alimentam, contam histórias e cuidam de seus filhos. Orí-entação. Este processo formativo traz a beleza dos encontros, da fabulação e oralidades. Acredito que cada visita nos trará ensinamentos únicos, não apenas para as nossas escritas, mas também, e principalmente, para a nossa vida”, explica a curadora Natara Ney.
Quilombos e Aldeias
Em junho, a Flup iniciará outro processo formativo, o ‘Slam de Quilombo’. Para ecoar a obra de Beatriz Nascimento e homenagear o intelectual quilombola Nêgo Bispo. A formação terá a participação de 10 quilombos de 10 diferentes estados brasileiros, que receberão slammers experientes para dar oficinas de poesia e performance. Cada quilombo promoverá uma batalha de slam local. Os vencedores de cada estado viajarão para o Rio de Janeiro, para a grande final, em novembro.
Em agosto, será lançada a oitava edição do Laboratório de Narrativas Negras e Indígenas para Audiovisual – Lanani. A parceria da Flup e a Globo já formou mais de 220 roteiristas nos últimos sete anos, renovando o mercado audiovisual brasileiro.
São três meses de formação com dois encontros semanais, um para aulas sobre formatos narrativos e estruturas de roteiro audiovisual e o segundo para mentorias de discussão dos projetos individuais dos participantes. O objetivo é a produção de um argumento para audiovisual, seja filme, série ou novela.
Sobre a Flup
A Festa Literária das Periferias – Flup é um festival feito por equipes de produção majoritariamente negras e com mulheres em cargos de liderança. Tem como missão propor outras experiências literárias, por isso atua em territórios periféricos abrindo caminhos para que livros, ideias e experiências antes à margem cheguem mais longe.
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Em 12 anos atuando no Rio de Janeiro, a Flup já passou pelo Morro dos Prazeres, Vigário Geral, Mangueira, Babilônia, Vidigal, Cidade de Deus, Maré, Biblioteca Parque, Museu de Arte do Rio – MAR e Providência, promovendo encontros entre grandes personalidades da literatura, tanto nacionais quanto internacionais. Em 2020, foi vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura. Em 2023, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro declarou a Flup patrimônio cultural imaterial.