Por Juliane Sousa
Doula e estudante de comunicação Social, a Piauiense Ana Carolina Dias, foi vítima de racismo durante uma aula online sobre parto humanizado. A ativista fez parte, entre os anos de 2017 e 2019, da Comissão de Apoio à Vítima de Violência Obstétrica da OAB Teresina, onde atuava contra esse tipo violência, com foco na saúde de mulheres negras.
Na última quarta-feira (10), a estudante foi convidada pela Liga Acadêmica de Ginecologia e Obstetrícia do Centro Universitário do Piauí para ministrar uma palestra sobre violências cometidas com mulheres negras durante o parto. A conferência acontecia em uma plataforma online com a presença de 50 pessoas, quando ela, e todos que estavam acompanhando o debate, foram surpreendidos com xingamentos e ataques racistas dirigidos a palestrante. “A gente já estava na segunda parte, que era discussão e perguntas. De repente chegaram os 3 homens (não aparecia o rosto, mas eram nomes e vozes ditas masculinas). Um ficava mandando mensagem ofensiva no chat, outro começou a falar comigo, me chamando de negra nojenta, sebosa, mandando lavar louça. O outro ficou falando coisas que nem entendi direito e inserindo vídeo pornô. Eles estavam muito organizados, foi tudo muito rápido, o jeito como entraram e ficaram” – contou, Ana Carolina.
A vítima explicou à nossa reportagem, que a organização do evento tentou tirar os criminosos da sala, mas não conseguiu, por isso, tiveram que sair e encerrar a aula antes do combinado com os participantes. O crime foi denunciado por ela e pela organização. A ativista acredita que os criminosos não serão identificados. “Provavelmente não dê em nada, porque, talvez, não sejam perfis verdadeiros, mas denunciamos e vai haver uma investigação”, relatou a ativista
Conservadorismo
Ana Carolina pontuou também que vem observando a organização de grupos conservadores nas redes sociais, cujo objetivo é atacar pessoas que estão discutindo pautas importantes para a sociedade, como o racismo. “Eu vi semana passada no Twitter, que tem muitos grupos conservadores se juntando para fazer ataques ordenados às pessoas de esquerda. Eles estão se sentido validados a planejarem esse tipo de ataques. Nós temos uma representação governamental que valida os discursos de ódio. Nos últimos anos, as pessoas estão se sentindo representadas e fortalecidas em fazer ataque às minorias, causas sociais, direitos humanos”, afirmou.
A estudante, que também integra o coletivo de Doulas do Piauí “Ciranda Semear”, contou que, apesar de ter se sentido muito mal e violentada, decidiu agendar um novo encontro no seu perfil do Instagram no dia seguinte (11) para continuar falando sobre o tema, o qual considera de fundamental importância para as mulheres negras. “Falávamos disso. 54% dos casos de violência obstétrica no mundo, acontecem com mulheres negras. Aqui no Brasil, a mortalidade materna é duas vezes maior em mulheres negras, menos acesso a analgesia, sem direito a acompanhante, peregrinação entre os hospitais para ser admitida, falta de informação no pré-natal, enfim. É um descaso imenso, questão de saúde pública urgente. Eu senti que não tinha terminado de falar o que precisava e decidi que não queria ser interrompida dessa forma. Foi a minha forma de reação”, concluiu a Doula.
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