Artistas e ativistas negros cobram contratação do ginasta Angelo Assumpção, alvo de racismo: “Cadê os clubes?”

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A semana começou com um pedido de desculpas: cinco anos após disparar ofensas racistas contra o ginasta Angelo Assumpção, o também ginasta Arthur Nory divulgou um vídeo em suas redes sociais afirmando ter se arrependido do fato ocorrido em 2015. A posição do medalhista de bronze na Rio 2016 dividiu opiniões, e, nesta quinta-feira (3), diversos artistas e ativistas negros decidiram se manifestar coletivamente.

Nomes como Hélio de la Peña, Roger Cipó, Ernesto Xavier e outros tantos – entre atores, advogados e jornalistas – se juntaram para produzir um vídeo em formato de manifesto, onde cobram de atletas e clubes um posicionamento firme para que Angelo seja contratado. Aos 24 anos, o paulista, um dos maiores talentos que a ginástica brasileira produziu nos últimos tempos, enfrentou uma série de episódios racistas – e o mais recente culminou no seu desligamento do clube Pinheiros, onde treinava desde os 8 anos de idade. Ou seja, há dez meses, Angelo Assumpção, que fazia parte da seleção brasileira até 2015, está sem ter onde treinar.

Em recente entrevista ao Esporte Espetacular, da TV Globo, Angelo contou que acredita ter sido descartado dos Jogos de 2016 por conta do racismo estrutural e relatou alguns casos vividos dentro do Pinheiros. Ele levou as denúncias à diretoria e, como resposta, foi suspenso por 30 dias por indisciplina. Tão logo voltou da suspensão, foi demitido.

“Quando eu comecei a fazer trança, ouvi discurso de que aquilo atrapalhava meu desempenho. Minha trança atrapalhava meu desempenho. Eu escutei isso dentro do Pinheiros. É muito complicado você estar se conectando, estar entendendo quem você é, e você recebe isso. Teve uma situação que eu estava todo de lycra preta e de shorts branco, e eventualmente uma pessoa disse que eu estava só de bermuda, entendeu?  São situações assim que para as pessoas são despretensiosas, não veem maldade, mas para a gente que vive isso todos os dias, que entende o que é um racismo estrutural, a gente se machuca demais”, disse.

A reportagem do Esporte Espetacular ouviu, ainda, a versão do clube Pinheiros. Em nota, a instituição atribuiu o desligamento do atleta a outros fatores.

“Todos os atletas passam por avaliações periódicas de desempenho técnico e comportamental. No caso do Angelo, há registros documentais de prática constante de indisciplina, tais como atrasos a treinos e demais atividades, insubordinação com a equipe técnica e atrito com os demais integrantes de equipe, acarretando inicialmente em advertências verbais que culminaram na suspensão do atleta, na forma de seu contrato desportivo, então vigente” – afirmou o clube, em nota. A reportagem, entretanto, pediu esses registros, mas o clube se recusou a apresentá-los. Angelo nega veementemente as acusações de má conduta.

Atualmente, a família do ginasta está fazendo uma campanha para arrecadar dinheiro. O objetivo é juntar R$ 15 mil para custear as necessidades básicas de Angelo.

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