A violência contra camponeses em Rondônia motivou novas denúncias após famílias acampadas em Machadinho d’Oeste relatarem cerco policial, ilegalidades em reintegrações de posse e a morte de dois pequenos agricultores. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), ao menos 440 famílias foram surpreendidas por ações policiais sem notificação prévia, sem presença de oficiais de Justiça e sem um Plano de Desocupação, exigência mínima para operações dessa natureza.
A tensão aumentou quando os irmãos Alex e Alessandro, pequenos agricultores, foram mortos a tiros enquanto tentavam deixar a área. A versão da polícia indica troca de disparos, mas acampados negam que tenha havido confronto. O local não foi preservado para perícia, e os corpos foram levados ao hospital como se as vítimas estivessem apenas feridas.

Representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Incra foram até uma associação comunitária fora da área de conflito para ouvir relatos sobre violência na região. A reunião foi interrompida por uma operação conjunta da Polícia Militar e de um Oficial de Justiça, que cercaram o local para entregar citações judiciais.
Segundo testemunhas, cerca de 200 famílias foram impedidas de sair, obrigadas a fornecer RG, CPF e até fotografias. Ao final da tarde, 80 famílias ainda permaneciam retidas. O procedimento foi classificado como constrangimento ilegal pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH).
Disputa por terras públicas envolve herdeiros de grupo educacional
Os conflitos se concentram na área da antiga Fazenda Maroins, de 39 mil hectares, reivindicada por três acampamentos, Santa Maria, ARPA e Ipê. A CPT aponta que grande parte do território é terra pública da União, mas está sob controle de herdeiros do empresário João Carlos Di Gênio, ligado ao Grupo Gênesis, mantenedor do Colégio Objetivo/Unip.
Uma decisão judicial recente ampliou o conflito ao estabelecer um raio de 60 km de interdito proibitório, afetando moradores de toda a região. Representantes do MDA criticaram a tentativa de cumprimento de citações fora da área delimitada, classificando a situação como “esdrúxula”.
A CPT afirma que as operações policiais têm ocorrido com brutalidade: casas e roças destruídas, famílias expulsas sob escolta armada, presença de helicópteros e segurança particular a serviço dos latifúndios.
A organização compara o atual cenário ao massacre de Corumbiara, ocorrido há quase 30 anos, também em Rondônia, quando camponeses foram mortos em ação policial.
Em nota, a CPT responsabiliza o governo estadual pela escalada de violência e pede a suspensão imediata dos despejos, além da investigação das mortes e agressões.
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