Após algumas polêmicas envolvendo atores negros e negras representando personagens da dramaturgia mundial que eram estritamente brancos, a agência de modelos Bloom TMA, voltada para diversidade e inclusão, realizou um ensaio com a temática negra.
O objetivo, segundo Thaísa Tadeu, diretora da agência, é mostrar que as produções negras estão em alta e precisam ser valorizadas todos os dias e não somente em datas específicas, como o Novembro Negro.
“Quero oportunidade o ano inteiro, não é só em novembro. Eu uso uma frase que ‘vidas pretas importam em vida’. Não quero ser lembrada só em novembro, não quero falar de mim só em novembro. Não quero ter espaço para falar quando um dos meus morrem de forma brutal, no caso, por conta de racismo, preconceito”, pontua.
Para ela, é necessário criar novos personagens voltados para a comunidade negra e resgatar figuras negras históricas para evitar o apagamento de histórias negras. “Eu cresci vendo a Ariel ruiva. É importante o protagonismo? Sim. Mas é necessário construir novas histórias e narrativas. Sou totalmente contra os comentários racistas que circularam por conta do protagonismo negro, mas que precisam ser construídas”, analisa.
A comunicóloga e modelo Carol Thompson reforça a importância de ter novos personagens e narrativas negras, contados pela própria comunidade. Segundo ela, historicamente, os negros foram tolidos do direito de estudar, de escrever as próprias histórias, e é preciso utilizar os espaços disponíveis atualmente para revelar as verdadeiras.
“Sempre escutamos os brancos contarem as histórias dos escravizados no Brasil, mas até onde é verdade? Para mim, participar desse ensaio foi de uma libertação e orgulho imenso. Vestir África foi me ver como uma verdadeira ‘Mulher Rei’, com todo respeito às que vieram antes de mim”, afirma.
Preto não vende
Thaisa cita ainda uma situação que vivenciou há alguns anos, quando foi selecionada para ser capa de uma determinada revista, mas o proprietário do periódico desistiu de colocá-la como destaque por ser negra. Segundo ela, o empresário disse que “preto não vende”.
“O produto voltado para um determinado público, o branco, não vai se enxergar em mim. Porém, a vida inteira nós consumimos tudo tendo os brancos como publicidade. Ou seja, eu consumo tudo que o branco consome, mas o branco não consome tudo que eu consumo, porque eu não sou exemplo para ele”, comenta.
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Thaisa completa dizendo que demorou muito tempo até se aceitar como mulher negra e que a sociedade sempre cobrou muito uma postura “branca” das negras e que isso pode ter custado a sanidade mental de muitas mulheres negras.
“Custou muito para eu assumir meu cabelo, foi muita lágrima, muita dor, muita resiliência. Então, não é moda, sabe? É um ato de resistência mesmo, de empoderamento estético e de valorização daquilo que eu verdadeiramente sou. Quando eu falo, não é só por mim, mas muitos de nós também. Eu não quero ser cota, entendeu? Eu quero oportunidade”, alerta.
Mãe de uma adolescente de 16 anos, Carol Thompson finaliza dizendo que existem muitas potências escondidas por trás de mulheres, homens, crianças e adolescentes negros, mas é preciso olhar além da cor da pele, além do que as imagens dizem.
“Essa geração que está chegando, vem completa, vem com garra e cheios de conhecimentos adquiridos junto aos nossos antepassados. Eles vem muito mais fortes do que nós, com mais tecnologias auxiliando, com mais informações circulando. É preciso olhar para eles com carinho e mais atenção. Eles são a personificação dos sonhos dos nossos ancestrais”, conclui.