Foi realizado um levantamento pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP) que acompanhou crianças e adolescentes por quatro anos, e em todos os cenários, foi constatado que as crianças e adolescentes pretos tiveram mais contatos com a polícia. Por meio da pesquisa, dos 11 a 14 anos, eles têm duas vezes mais chance de serem revistados por policiais na cidade de São Paulo, do que os brancos.
Os 800 entrevistados responderam 30 questões por ano, de 2016 a 2019. Todos nasceram em 2005 e estavam com 11 anos em 2016. Já no primeiro ano da pesquisa, 27,47% dos que se declararam pretos foram parados pela polícia. Já os que se dizem brancos, apenas 18,83% disseram o mesmo, e no caso dos pardos, 12,84% relataram contato com a polícia.
No total 21,51% das crianças que se declararam pretas afirmaram ter sido revistadas pela polícia.
Os resultados demonstram que a discriminação racial e seletividade das abordagens policias estão presentes desde cedo. O relatório “A experiência precoce e racializada com a polícia” foi publicado no site do NEV, e será lançado no dia 31 de agosto, às 14 horas, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
“Os brancos são muito menos parados [pela polícia] do que os pretos. O relatório chama a atenção para um debate fundamental de longo prazo, que é o da abordagem policial desproporcional por raça”. É um estranhamento da nossa parte saber que a polícia chegaria a parar na rua uma criança de 10 a 11 anos”, afirma o sociólogo e pesquisador da USP Renan Theodoro, que é um dos organizadores do relatório.
De acordo com o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 50% das vítimas de morte violenta intencional tinham entre 12 e 29 anos. No ano de 2021, mais da metade dos mortos em decorrência de intervenção policial tinha entre 12 e 24 anos, sendo 8,7% entre 12 e 17 anos, e 43,6% entre 18 e 24 anos de idade.
A pesquisa, além do número de abordados e revistados, também relatam casos de crianças e adolescentes xingados, agredidos e até mortos pela polícia da capital paulista.
Em nota enviada ao G1, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo falou sobre os números divulgados pela pesquisa. A Polícia Militar esclarece que a abordagem policial obedece aos parâmetros técnicos disciplinados por Lei e são padronizados por meio dos chamados Procedimentos Operacionais Padrão. Ao longo dos anos, a Polícia Militar tem buscado evoluir e aprimorar sua atuação de maneira contínua“.
Também afirmaram que foi criada a Divisão de Cidadania e Dignidade Humana e que os PMs estudam ações antirracistas nas escolas de formação.
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