Os suspeitos de torturar dois jovens negros numa loja, em Salvador, prestaram depoimento à polícia nesta quarta-feira (31) e permanecem soltos. O teor do depoimento não foi divulgado. O delegado William Achan, responsável pelo caso, disse que não há dúvidas de que houve prática de tortura, porém, no momento, não há elementos para prender os dois suspeitos.
![](https://noticiapreta.com.br/wp-content/uploads/2022/08/image.psd-2022-08-26t135433.519.webp)
Os crimes foram cometidos pelo empresário Alexandre Carvalho e pelo gerente Diógenes Carvalho, que agrediram os funcionários a pauladas. Um deles teve a mão queimada, como “punição” pelo suposto furto de R$ 30 da empresa – valor que as vítimas negam que tenham pegado.
O advogado de defesa do empresário e do gerente, Otto Lopes, afirmou que os suspeitos confessam ter cometido o crime de lesão corporal, mas negam tortura. Segundo ele, as vítimas estavam no local por livre e espontânea vontade e “poderiam ter deixado a sala quando quisessem”.
As agressões começaram no dia 19 de agosto, numa sala nos fundos da loja, e aconteceram em dias diferentes, mas só foram denunciadas à Polícia Civil no dia 26, porque as vítimas dizem ter sido ameaçadas pelos homens para não prestar queixa.
Saiba mais: Trabalhadores são torturados em Salvador (BA); MPT investiga o caso
Os dois funcionários do estabelecimento dizem que passaram horas sendo espancados para confessar um suposto furto. Além das agressões, os investigados filmaram a situação e expuseram na internet.
Nos vídeos divulgados, o funcionário Marcos Eduardo Serra, 24 anos, aparece recebendo pauladas nas mãos. A outra vítima, William de Jesus, 21, tem as mãos queimadas com ferro de passar roupa. Os agressores escreveram o número 171 na vítima, em referência ao crime de estelionato.
“Ele queimou minhas mãos, me deu várias pauladas, vários murros, e falou que eu ia passar o [que ocorria no] tempo da escravidão”, revelou William.
O dono da loja, Alexandre Carvalho, disse à polícia que agredir os funcionários foi uma forma de fazer justiça com as próprias mãos e dar uma espécie de “lição” para os outros empregados.
Leia também: O Centro de Estudos da Juventude oferece curso gratuito para jovens periféricos
O Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA) também investiga a denúncia de tortura. O órgão informou que vai solicitar informações à Polícia Civil, e que as vítimas e os dois acusados serão convocados para prestar depoimento. O órgão também analisa se o caso pode ser enquadrado como trabalho análogo à escravidão. Os rapazes trabalhavam sem carteira assinada, e sem qualquer outro benefício.
0 Replies to “Acusados de torturar jovens negros prestam depoimento em Salvador”