“A missão é honrar nossos ancestrais”, diz a primeira mulher a assumir a gestão do Museu da Cultura Afro-Brasileira

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A produtora cultural Cintia Maria e a diretora audiovisual Jamile Coelho assumiram a gestão coletiva do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), substituindo o fundador do órgão, José Carlos Capinam, 81 anos, poeta da Tropicália e compositor de sucessos nas vozes de Gilberto Gil, Caetano Veloso e João Bosco.

Cintia Maria, Capinam e Jamile Coelho – Foto: Divulgação

“Como dizia a educadora baiana Makota Valdina, é preciso ser sujeito da história e não objeto. Sendo assim, vejo esse novo desafio como uma missão de honrar a trajetória dos nossos ancestrais. As matrizes africanas têm um papel fundamental na construção da identidade brasileira”, defende a produtora cultural Cintia Maria, que assume a direção institucional do Museu.

“O museu é um espaço de memória, mas também de reconhecimento e de reconexão, como diz Capinam, ‘aqui nós trabalhamos com o tempo, com o que foi, o que é, e o que será'”, completa.

A gestão artística fica a cargo da diretora audiovisual, Jamile Coelho, que ressalta a importância e valorização do Muncab. “Os ancestrais foram submetidos ao ritual do esquecimento de suas origens antes de embarcarem em navios. Mas essa crueldade só impulsionou o nosso ‘lembramento’. Como dizia Mãe Stella de Oxóssi, ‘o que não se registra, o tempo e o vento levam’. Como o símbolo adinkra do sankofa prega, caminharemos para frente, sem nunca perder a referência de quem veio antes”, reforça.

O Museu

Inaugurado em 2011 por Capinam, o Muncab tem um acervo com mais de 400 peças, que transitam pela arte contemporânea, erudita, popular e sacra. São pinturas, esculturas, móveis e documentos, entre outros objetos. O museu abriga trabalhos de notáveis artistas visuais pretos, entre eles esculturas do Mestre Didi (Salvador, 1917-2013), descendente da tradicional família Asipa, originária de Ketu, importante cidade do império Iorubá. Pinturas da gravurista mundialmente conhecida Yêdamaria (Salvador, 1932-2016) e outros nomes.

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Na última década, o Muncab se consolidou em Salvador, onde está localizado, como um espaço de memória dedicado a valorizar a cultura afro-brasileira. Atualmente, a nova direção planeja uma reestruturação para a reabertura gradativa do espaço para o público, além de investir em acervo, pesquisa, educação, programas de residências e no relacionamento com a comunidade museológica. O novo logotipo da organização também foi lançado, com referências dos símbolos adinkras.

Capinan abre espaço para a primeira gestão feminina do Muncab – Foto: Divulgação

Biografias

Natural de Salvador, Cintia Maria é empresária e gestora cultural. Desenvolve e gerencia projetos inovadores, criativos e de impacto social na área cultural com foco nas populações invisibilizadas e culturas identitárias. Cineclubista e fundadora do Cineclube Antônio Pitanga, sócia da Editora Emoriô, é cofundadora do projeto de formação audiovisual Núcleo Baiano de Animação em Stop Motion (NUBAS) e idealizadora do Cine Janela.

A cineasta soteropolitana Jamile Coelho iniciou sua carreira na gestão cultural como Conselheira de Cultura em Camaçari, região metropolitana de Salvador. Bacharel em Artes pela Universidade Federal da Bahia, foi responsável pelo projeto de implantação do Museu Virtual Roque Araújo. Acumula mais de 30 prêmios durante a sua trajetória como curtametragista de animação. Contribui para a descentralização do audiovisual através da realização de oficinas em quilombos, terreiros, universidades e escolas.

Igor Rocha

Igor Rocha

Igor Rocha é jornalista, nascido e criado no Cantinho do Céu, com ampla experiência em assessoria de comunicação, produtor de conteúdo e social media.

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