“A Mangueira está fazendo um carnaval para defender e reivindicar a autoria cultural dos Banto”, afirma carnavalesco

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Em um desfile que promete emocionar e conscientizar, a escola de Samba Mangueira prepara um carnaval dedicado à defesa e reivindicação da autoria cultural dos povos Banto. O carnavalesco, Sidnei França responsável pelo enredo revelou em entrevista exclusiva ao Notícia Preta, que desde o início, a ideia era criar uma narrativa que conectasse a historicidade do Rio de Janeiro com a população negra. “Desde o começo, pensei em realizar um enredo que tivesse a ver com a historicidade do Rio e da população negra”, afirmou.

O carnavalesco explicou que o termo “Banto” não se refere a uma etnia ou tribo específica, mas sim a um tronco étnico-linguístico. “Banto não é uma etnia, não é uma tribo, banto não é uma identidade étnico-racial, mas sim um tronco étnico-linguístico. O que faz o banto ser banto é justamente a oralidade”, destacou. Ele ressaltou que o samba-enredo da Mangueira, ao narrar uma história com fundamento Banto, incorpora elementos da identidade linguística desse povo, presentes na sinopse e nos glossários do desfile.

A Estação Primeira de Mangueira prepara um carnaval dedicado à defesa e reivindicação da autoria cultural dos povos Banto – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Carro do afrofuturismo

Sidnei revelou que o último carro traz rostos de crianças de diversas etnias, representando a integração e a diversidade, conceitos centrais da cosmovisão Banto. “São rostos de crianças, são crianças e, segundo, temos ali uma diversidade étnica, isso é proposital”, disse.

Durante as pesquisas para o desenvolvimento do desfile, aprendeu lições profundas sobre a cultura Banto. Ele ressaltou que os povos Banto se diferenciam de outras culturas africanas por sua abertura ao contato com outras etnias. “Os povos Banto se diferenciavam de outras culturas do continente-mãe, de África, no sentido de não ter problema com contatos com outras culturas”, explicou.

Essa característica, segundo ele, reflete uma visão de mundo integrada e respeitosa. “Quando o homem branco colonizador chegou na costa de Angola com o desejo de dominar, não houve animosidade e guerra por parte dos africanos, porque para eles era uma dádiva conhecer uma outra etnia, uma outra cultura”, contou.

Ele ainda destacou que essa cosmovisão influenciou a experiência Banto no Brasil, onde a assimilação cultural ocorreu sem conflitos. “A experiência Banto no Brasil não foi de disputa. Isso explica também a diferença da contribuição e principalmente da assimilação dessa contribuição em relação aos povos nago iorubá”, afirmou.

Sidnei ressaltou que, ao contrário dos povos nago iorubá, que reivindicaram a autoria de sua cultura, os Banto priorizaram a integração e a fusão cultural. “Eles misturavam a cultura com o que acontecia no Brasil sem limite, sem fronteira. E isso tem uma coisa bonita que é a integração, é a doação, só que isso custou a autoria”, explicou.

Ele concluiu que o desfile da Mangueira busca, justamente, resgatar e reivindicar essa autoria cultural. “Se hoje a Mangueira está fazendo um carnaval para defender e reivindicar a autoria cultural dos Banto, é porque, durante todo o tempo, para eles, ficar reivindicando a autoria não era importante. O que eles queriam era crescer a partir de fusões e de novas percepções de existência”, finalizou.

O último carro alegórico da Mangueira traz, portanto, uma mensagem de afrofuturismo, representando a integração entre crianças Banto, indígenas e de outras etnias. “A Mangueira traz no seu último carro alegórico o discurso do afrofuturismo, a foto que vazou traz rostos de crianças bantus congraçando com crianças indígenas, fon e etc, com a ideia de se integrar ao outro”, concluiu o carnavalesco, reforçando a importância dessa mensagem de união e respeito às raízes culturais.

Confira a entrevista completa:

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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