“A desigualdade não se manifesta da mesma forma em todos os lugares”, alerta especialista

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Acabar com a fome no mundo é um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Este a número um dos objetivos, entre as demais ods e é sobre que falaremos hoje, um dia após o Dia da Internacional para a Erradicação da Pobreza que foi na quinta-feira (17).

Nesta matéria, trazemos uma análise importante do mestrando em Economia Política Internacional e especialista em política monetária, Wallace Borges, que fala sobre a cultura e tradições diante da pobreza, sobre a desigualdade persistente e seus impactos.

“Em áreas urbanas é mais fácil consumir produtos de fast food, que podem ser mais acessíveis financeiramente do que opções saudáveis. Portanto, é crucial que as políticas públicas considerem essas particularidades locais e culturais. A desigualdade não se manifesta da mesma forma em todos os lugares, e as políticas devem ser adaptadas para respeitar e integrar as tradições e hábitos da comunidade, assegurando que as opções disponíveis sejam de qualidade”, crava Wallace.

Wallace fala como a cultura e as tradições locais influenciam a eficácia das políticas de combate à pobreza, pois os padrões de consumo são profundamente influenciados por contextos municipais. O acesso a alimentos saudáveis e de qualidade, por exemplo, varia significativamente entre localidades, como a comparação entre uma feira em ‘Quissamã’ (município interior do RJ) e opções em grandes centros urbanos como o Rio de Janeiro.

A meta inicial da ONU, é que até 2030, pelo menos erradicar a pobreza extrema para todas as pessoas em todos os lugares, atualmente medida como pessoas vivendo com menos de US$1,25 por dia. Entre esses, também estão presentes investir em áreas como trabalho digno, oportunidades de aprendizagem e proteção social que ofereçam degraus para sair da pobreza, segundo o site da ONU.

Segundo a ONU e UNICEF, num impacto global, pelo menos 719 milhões de pessoas vivem em condições de pobreza extrema e a Guiné Equatorial detém 76,8% da população mais pobre, entre as mais pobres do mundo, ocupando o primeiro lugar no ranking. Aliado à isso, as principais causas são desemprego, exclusão social , alta vulnerabilidade de determinadas populações, desastres naturais e doenças.

Erradicação da Pobreza no mundo. O olhar do economista Wallace Borges sobre o assunto numa entrevista exclusiva ao Notícia Preta – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Borges traz um dado essencial para compreender a situação de pobreza no mundo, ele pontua que cerca de 40% da erradicação da pobreza no mundo ocorreu na China, graças a um planejamento econômico estratégico. E diz que após o fim das experiências socialistas do século XX, as economias de mercado, dominadas por interesses privados, contribuíram para o aumento da pobreza global.

Além disso, recessões econômicas dificultam os esforços para combater a pobreza, agravando as condições de vida das populações vulneráveis.

Para Wallace, a recessão econômica é um problema muito grave no contexto de se tentar erradicar a pobreza, porque toca diretamente nos mais pobres, pessoas que o governo tem em mãos a quantidade, pessoas que recebem benefícios sociais, participam dos principais programas de transferência de renda, de devolução de imposto.

Para ele, todos os programas sociais que buscam uma distribuição melhor da economia são para pessoas que se prejudicam muito com as recessões econômicas, pelo fato de que essas pessoas mais vulneráveis da sociedade, elas estão mais majoritariamente alocadas em ocupações.

Ocupações informais ou ocupações bastante vulneráveis, que só ganham algum traço de estabilidade a partir de um momento em que a economia está estável e crescente. Pelo fato simples de que quando você aumenta a renda, as pessoas consomem mais alimentos e bens, então faz sentido o mercado local ali contratar um empacotador para fazer a coisa ser mais dinâmica, melhorar pro consumidor e pra todo mundo.”, completa ele.

Questionado sobre a relação entre o crescimento econômico e a redução da pobreza, o economista começa dizendo que o crescimento econômico é a principal ferramenta que se observa no mundo inteiro de combate à desigualdade, porque em uma economia capitalista como aqui no Brasil, em uma economia de propriedade privada, quem cresce não é o país, quem cresce são as pessoas, já que a propriedade é privada.

Wallace analisa também a forma que o país se comporta nesse contexto, que é quando o país cresce, o cidadão tem condições objetivas de cumprir a Constituição, que coloca claramente a questão do seguro desemprego, do benefício de prestação continuada, tem os mínimos constitucionais da saúde e da educação, e tudo isso em funcionamento toca diretamente no combate à desigualdades.

É preciso dizer que nós temos vários problemas ambientais que vão tocar no crescimento econômico. A necessidade de preservar o meio ambiente, de mitigar os efeitos das mudanças climáticas para as populações dos municípios, dos estados e da união, ela faz com que a possibilidade de crescimento, ela seja menor por definição. E isso faz com que os modelos de desenvolvimento sejam repensados. Distribuir mais e melhor se torna mais importante, desde que se haja uma clareza em como se faz essa distribuição dentro do que é pedido pela Constituição.“, diz.

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