“Empregada doméstica estava indo para a Disney é uma festa danada”, diz Ministro da Economia ao falar sobre a alta do dólar

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Ministro da Economia Paulo Guedes

Ministro da Economia Paulo Guedes

Com o dólar batendo o quarto recorde consecutivo em relação ao real e chegando a R$ 4,35 o Ministro da Economia Paulo Guedes declarou publicamente que o câmbio alto é bom porque aumenta as exportações, substitui importações e reduz o número de empregadas domésticas em viagens internacionais. A declaração do Ministro foi dita durante o Seminário de Abertura do Ano, organizado pelo grupo “Voto”, nesta quarta-feira (12).

Ao mencionar períodos em que o real esteve mais valorizado, Paulo Guedes disse que empregada doméstica estava indo para a Disney: “Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada. Pera aí. Vai passear ali em Foz do Iguaçu, vai passear ali no Nordeste, está cheio de praia bonita. Vai para Cachoeiro do Itapemirim, vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu, vai passear no Brasil, vai conhecer o Brasil. Está cheio de coisa bonita para ver “, disse o ministro, durante o evento realizado em Brasília.

Guedes tentou ‘explicar’ sua fala no mínimo preconceituosa utilizando-se do discurso de que viagens nacionais estimulariam o crescimento do turismo nacional: “Antes que falem: ‘Ministro diz que empregada doméstica estava indo para Disneylândia’. Não, o ministro está dizendo que o câmbio estava tão barato que todo mundo está indo para a Disneylândia, até as classes sociais mais… O juro é um pouco mais baixo, o que é bom para todo mundo. E ao mesmo tempo, um câmbio um pouquinho mais alto, o que é bom para todo mundo. Mais exportação, mais substituição de exportações, inclusive em turismo”, disse o Ministro da Economia tentando contornar a situação.

Na semana passada, Guedes comparou servidores públicos a parasitas. Depois, disse que foi tirado de contexto e pediu desculpas. Nesta quarta-feira (12), Guedes disse que levou bronca até da mãe.

“Meu primo, minha madrinha e até minha mãe, que foi funcionária pública me escreveu (criticando), disseram que trabalhavam. Mas não falei dos indivíduos, as pessoas que são sérias e merecem todo respeito”, disse o Ministro.

Mulheres são maioria no trabalho doméstico

Fonte: Ministério do Trabalho

Uma pesquisa divulgada pelo Ministério do Trabalho e Previdência e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revela que nas moradias das classes média e alta a atividade doméstica é quase exclusivamente feminina: 92 % dos empregados domésticos são mulheres e essa é a ocupação de 5,9 milhões de brasileiras, o equivalente a 14% do total das ocupadas no Brasil.

Mulheres negras são as que ainda mais sofrem – Se a condição de trabalho das empregadas domésticas é ruim, a das trabalhadoras domésticas negras é ainda pior. Elas são maioria, têm escolaridade menor e ganham menos. Em 2014, 10% das mulheres brancas eram domésticas, índice que chegava a 17% entre as negras.

Entre as trabalhadoras com carteira assinada também existe diferença. O percentual é de 33,5% entre as mulheres brancas e 28,6% entre as negras. Isso reflete diretamente no salário que elas recebem: R$ 766,6 das brancas contra R$ 639 das negras, valor inferior ao salário mínimo.

“As mulheres negras vão mais cedo para o mercado de trabalho, não conseguem estudar e também são mães mais jovens. Toda essa conjuntura faz com que elas se sujeitem a condições mais precárias”, analisa a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), Creuza Maria Oliveira.

E esse não é o único desafio simbólico que precisa ser enfrentado. Para Creuza, a sociedade precisa se questionar porque esse ainda é um ofício para mulheres e, principalmente, para mulheres negras. Sobre isso, a baiana Marinalva de Deus Barbosa analisa que “trabalho doméstico é feminino porque é muito desvalorizado. Se fosse mais valorizado haveria mais homens, como aconteceu com a profissão de chefe de cozinha. Antes as pessoas tinham vergonha. Agora é moda, está cheio de homens lá. É triste que ainda haja isso em nossa sociedade.”

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