“Eles veem uma possibilidade de formar uma família preta, sapatão, dentro da quebrada”, diz Aline Brito sobre o perfil Maternidade Sapatão

WhatsApp-Image-2023-05-13-at-17.51.37.jpg

Uma família pode ter muitas configurações, que ultrapassam o preconceito e o ódio, se fortalecendo apenas no amor e no acolhimento. Dois pais, um ou dois avós, apenas os irmãos, duas mães, e por aí vai. As possibilidades são várias, mostrando as diversas formas de criar uma família.

E a Aline Brito e a Alessandra Ayabá sabem muito bem disso. Donas do perfil “Maternidade Sapatão” no Instagram, as criadoras de conteúdo mostram suas vivências enquanto mães lésbicas, negras e de favela criando os gêmeos Jawari e Jamal com muito amor.

Aline Brito e a Alessandra Ayabá com os filhos Jawari e Jamal /Foto: Divulgação

Para Aline, o perfil que elas construíram tem o objetivo de mostrar para outras mães que é possível sim fazer o que elas fazem.  

“Quando as pessoas olham o nosso perfil eles veem uma possibilidade de formar uma família preta, sapatão, dentro da quebrada. As pessoas veem a possibilidade de amor entre mulheres, de criar duas crianças de forma saudável dentro da quebrada, de formas acessíveis porque a gente sabe que criar uma criança com qualidade e com dignidade no país que a gente vive é caro, então estamos sempre nesse corre do que seria acessível para compartilhar”, diz  

E entre desabafos e dicas, o casal cria um ambiente de troca com outras mães em situações diferentes, o que de acordo com Aline, cria uma rede de apoio entre elas. Aliás, ela acredita que todas que compartilham suas experiências nas redes sociais ajudam outras mulheres que estão precisando de ajuda. 

“Quando a gente troca uma dica com uma mãe, por exemplo, que esteja no corre dela da maternidade há mais tempo do que eu e que já passou por coisas que eu ainda não passei, eu vou lá trocar uma ideia com ela e ela me ensina alguma coisa” diz Aline, que conta que recebem várias mensagens de troca na internet. 

“A gente se ajuda, se acalma, a gente se acalenta”, diz ela. Já Alessandra define a maternidade como uma experiência completamente diferente, a ponto de te transformar. “Pra mim a Maternidade significa transformação e descobertas. Vc é a mesma pessoa, mas nunca mais será a mesma depois de ser mãe”, explica. 

Leia também: “Nossa luta não para jamais”, afirma atriz Fernanda Dias sobre abolição

E como transformar a vida de seus filhos? Aline conta que apesar de sempre saber que era uma pessoa negra por ser retinta e viver em uma família negra, ela teve um baque ao se deparar com a crueldade do racismo e entender o que de fato significa ser negra. Por isso, criar seus filhos sob o olhar da ancestralidade e da questão racial é muito importante para ela, e para a Alessandra.

“Não quero que meus filhos tenham esse impacto, esse susto em descobrir que é uma pessoa preta. E acho que é a continuidade também né, eu acho que só estou cumprindo a minha obrigação porque olha o quanto nossos ancestrais sofreram para a gente estar aqui, aí eu vou e não vou compartilhar com eles? Não tem como”, explica Aline, que finaliza dizendo o propósito de criar Jawari e Jamal dessa forma.

“Para eles darem continuidade a essa luta, resistirem e se manterem vivos e cientes das pessoas negras que eles são, a gente tem que criar eles dentro dessa ancestralidade e respeito a nossa identidade”.

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

Deixe uma resposta

scroll to top