Estudo afirma que população negra é a mais vulnerável ao racismo ambiental

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Segundo o estudo “Injustiça socioambiental e racismo ambiental” do Instituto Pólis, a população negra nos centros urbanos é a mais vulnerável a desastres ambientais.  Por exemplo: em Recife, onde 55% da população é negra, nas regiões com risco de inundação é de 59%; onde há risco de deslizamento sobe para 68%.

Habitações precárias, em áreas de encosta, sem saneamento básico, com infraestrutura ruim e nenhum cuidado aparente do governo são bastante comuns nas periferias de grandes cidades, e essas áreas cinzas sem verde são ocupadas, majoritariamente, por pretos e pardos.

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Especialistas em engenharia e bem-estar discutem soluções para o 
racismo ambiental. Foto: Reprodução

Esse fenômeno, segundo Luciano Machado, da MMF Projeto, tem nome: racismo ambiental. Antes de ser um engenheiro civil graduado, com MBA e pós em geotecnia, e fundar sua própria empresa, Luciano teve que superar a realidade de muitas crianças pretas do Brasil: cresceu num quintal com um banheiro externo compartilhado por três casas, com pouca ou nenhuma infraestrutura e/ou saneamento básico. “Eu tinha cinco anos quando meu pai terminou de construir o banheiro. Eu e meus irmãos comemoramos. Para mim, infraestrutura é questão de dignidade, pois eu sei o que é não ter um banheiro e sair no inverno para tomar um banho”, coloca o engenheiro.

Racismo ambiental surgiu na década de 1980 nos Estados Unidos quando foi mapeado que a maioria dos lixões do país estavam localizados nos bairros periféricos habitados por minorias. O termo define as injustiças sociais e ambientais às quais os grupos minoritários estão expostos em seu dia a dia, como falta de saneamento básico, capeamento de vias e iluminação pública, infraestrutura precária, amparo social ruim como falta de creches e hospitais. 

As carências às quais esses grupos estão expostos eleva o grau de estresse e piora a qualidade de vida dessas pessoas. Em São Paulo, os bairros mais pobres são os menos arborizados e sabe-se, pela União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (Iufro), que o contato com a natureza pode combater e prevenir doenças, como ansiedade e diabetes.

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Como lembra o comunicólogo e especialista em bem-estar, Rodrigo de Aquino, o olhar dominante na sociedade nos impede de ver com clareza a conexão que existe entre meio ambiente, saúde física e mental com a degradação do espaço urbano, seja ele central ou periférico. Para ele, é que a fauna e flora devem ganhar protagonismo. 

“A dignidade é a porta de entrada para o bem-estar e a saúde mental de todos. Ações integradas entre a iniciativa privada e governo são fundamentais para oferecer mais verde, saneamento básico, qualidade no transporte público, boas opções de trabalho em regiões periféricas melhorando o deslocamento e aumentando o tempo de lazer, de sono e de qualidade de vida. Essas são boas iniciativas para um bem viver e o florescimento de uma sociedade mais feliz”, coloca Rodrigo.

Para Rodrigo e Luciano, já passou da hora nomearmos o problema e encará-lo de frente, uma vez que possuímos soluções para enfrentá-lo. 

“Diante do problema, a engenharia tem papel fundamental no combate ao racismo ambiental. Com toda tecnologia e conhecimento disponíveis hoje, é inadmissível que ano após ano centenas de vidas sejam ceifadas de forma tão precoce”, finaliza Machado.

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