Tragédia em escola de São Paulo estaria relacionada a caso de racismo

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São Paulo (SP), 27/03/2023 - Sílvia Palmieri, mãe da professora Patrícia, que não foi ferida, deixa a Escola Estadual Thomázia Montoro, em Vila Sônia, após aluno atacar colegas e professoras à faca. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Após tragédia que aconteceu na Escola Estadual Thomazia Montoro (SP), um aluno relatou a repórteres que estavam no local, que a ação estaria relacionada a um caso de racismo ocorrido na semana passada, que gerou uma briga entre o autor e outro estudante.

“Ele e o menino começaram a brigar porque ele chamou o menino de preto, macaco. O menino não gostou e partiu para cima dele. Ai a Beth, que é a professora, separou. Hoje, esse menino que chamou o outro de macaco veio com uma faca e esfaqueou várias vezes”, contou o garoto em frente à escola.

Mãe de uma das professoras feridas deixa a escola após o crime – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A professora citada pelo aluno, é Elisabete Tenreiro, de 71 anos. Ela teve uma parada cardíaca e morreu no Hospital Universitário, da USP  na manhã desta segunda-feira (27). Além dela, mais três professoras e um aluno foram atingidos e encaminhados para os hospitais das Clínicas, Bandeirantes, Universitário e São Luís. Um aluno foi socorrido em estado de choque, mas sem ferimentos.

O agressor, um aluno de 13 anos do oitavo ano na escola, foi desarmado por outras professoras, até ser apreendido por policiais e levado para o 34° DP, onde o caso foi registrado. Em entrevista a TV Globo, pais que estavam na porta da escola relataram que agressões físicas e denuncias de casos de bullying são frequentes na escola.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse em suas redes sociais que lamenta a tragédia ocorrida em São Paulo.

“Tristeza profunda pela tragédia de São Paulo que deixou uma professora morta, após ser esfaqueada por um aluno do oitavo ano. Além dela, pelo menos outras três pessoas foram feridas. Sou professora e me solidarizo muito com essa colega, com as famílias e toda comunidade escolar. Estamos disponíveis e vamos trabalhar para que as escolas sejam lugares seguros para crianças, jovens e toda a comunidade escolar”, conclui o post.

Educação como instrumento antirracista

Lavini Castro, é Educadora Antirracista Idealizadora e Coordenadora da Rede de Professores Antirracistas, e disse ao Noticia Preta sobre a importância, lei 10.639/2003, hoje alterada para a Lei 11.645/2006, que torna obrigatória a aprendizagem nas escolas, sobre o reconhecimento da pluralidade do povo brasileiro evidenciando as contribuições dos grupos raciais colocados em segundo plano ao inserir a valorização das histórias e culturas afro-brasileiras e indígenas.

Ela destaca que a aplicação da lei ajuda é uma forma de reconhecer a importância dos grupos sistematicamente excluídos e que tais leis tratam de estimular a produção de conhecimentos, gerar a valorização da cultura negra e indígena, a fim de desenvolver a noção de pertencimento étnico-racial, visando a construção de uma nação democrática, onde todos possam ter seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.

“Na prática, busca enriquecer o currículo escolar a fim de possibilitar o reconhecimento da positivação da imagem negra através de sua história e cultura, promovendo assim condições de empoderamento e ampliação da participação de tais grupos em diferentes espaços sociais”, destaca.

Apesar da obrigatoriedade da lei, Lavini conta que a mesma ainda não vigora em boa parte das escolas do país, conforme pesquisas da área.

“Tal fato se deve a um conjunto de fatores, tais como a carência de disciplinas nas universidade para a formação de professores habilitados a discutir a temática racial e das histórias e culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas”

Ela também destaca que os princípios da lei devam ser aplicados pelos professores pertencentes a esse grupo racial para alunos desse mesmo grupo, muitas vezes a desculpa é “mas não temos alunos negros ou indígenas então não precisamos aplicar tal lei”, muito embora seja um problema da sociedade, mas não é visto assim.

Leia mais em: Morre professora esfaqueada em escola de São Paulo

Marina Lopes

Marina Lopes

Marina Lopes é jornalista e escritora juiz-forana, apaixonada pela palavra e por contar histórias através dela.

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