“Você não quer ser meu escravo?”, CEO da EmpregueAfro lamenta racismo sofrido pelo filho em escola

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Matéria produzida por Marina Lopes e Taci Baptista

Na tarde da última quinta-feira (23), a CEO da EmpregueAfro, Patrícia Santos, relatou um episódio de racismo ocorrido na escola. Segundo Patrícia, uma criança branca perguntou ao filho em “tom de brincadeira”: “Você não quer ser meu escravo?”.

Após o ocorrido, a mãe usou as redes sociais para alertar os seguidores. “Gente, aconteceu de novo! Mais um caso de racismo na escola dos meus filhos”. No vídeo, Patrícia indica que não foi a primeira vez que os filhos sofreram racismo no ambiente escolar.

Patrícia Santos relatou o episódio de racismo sofrido pelo filho na escola. Vídeo: Reprodução/Instagram

“De novo, lá fui eu falar com a escola sobre um currículo antirracista, na prática. Sobre ferramentas de repertório para os meus filhos que são negros, e para os brancos, para terem respeito. Para que a educação seja de fato antirracista”, desabafou a fundadora do EmpregueAfro.

Casos recorrentes de racismo

Não é primeira vez que a criança passa por caso de racismo na escola de São Caetano do Sul. Patrícia conta que em 2020, no mês da consciência negra, “as crianças ensaiaram uma música para apresentação e as crianças trocavam a palavra ‘negro’ da música, pelo nome dele”, conta.

Posteriormente, ele foi chamado de “cor de cocô”, se referindo ao seu tom de pele. Patrícia chegou a ir na escola e pedir para que a lei 10.639, que obriga o ensino sobre ensino de história e cultura afro-brasileira em todos os níveis da educação infantil, fosse implementada.

Os professores também o ignoravam durante as aulas, como por exemplo o professor de história que pediu para que os alunos levassem um livro sobre religião, e não quis abordar o livro levado pelo filho de patrícia sobre os orixás. “É recorrente [racismo], todo ano acontece um ou dois episódios”, desabafa.

Ela conta que conversa muito com os filhos. “Falo que eles são lindos, que a cor da pele deles é linda. Que escravidão foi a grande atrocidade da humanidade e isso afeta a gente todos os dias. Digo pra eles gostarem de quem eles são e que eles representam a nossa herança ancestral e da nossa força”, conclui.

Repercussão

A apresentadora e influenciadora Luana Xavier se solidarizou com o caso e deixou palavras de conforto na postagem de Patrícia. Já a apresentadora e também influenciadora Xan Ravelli, publicou que a filha de 10 anos, que estuda na mesma escola, também é vítima de racismo na sala de aula.

 Desabafo gerou repercussão nas redes sociais. Foto: Reprodução/Instagram

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Impacto do racismo nas crianças

Segundo a Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a discriminação e racismo contra crianças e adolescentes são fatores comuns em todo o mundo.

De acordo com dados do relatório de 2022, que considerou 22 países, as crianças e adolescentes sofrem discriminação em esferas como: educação, saúde e acesso aos recursos governamentais.

A diretora da Unicef, Catherine Russell, afirma: “O racismo estrutural e a discriminação colocam crianças e adolescentes em risco de privação e exclusão que podem durar a vida toda”.

Combate ao racismo na infância

A campanha da Unicef contra o impacto do racismo na infância sugere que as crianças sejam educadas para aprenderem o respeito à diferença.

Sendo assim, alerta que a discriminação é uma violação dos direitos. Ainda, a instituição, reforça sobre a importância de denunciar em todos os casos com a procura do Conselho Tutelar, nas ouvidorias dos serviços públicos, na OAB, e nas delegacias de proteção à infância e adolescência.

Lavini Castro, Educadora Antirracista Idealizadora e Coordenadora da Rede de Professores Antirracistas, falou em entrevista ao Noticia Preta sobre a importância, lei 10.639/2003, hoje alterada para a Lei 11.645/2006, que torna obrigatória a aprendizagem nas escolas,  sobre o reconhecimento da pluralidade do povo brasileiro evidenciando as contribuições dos grupos raciais colocados em segundo plano ao inserir a valorização das histórias e culturas afro-brasileiras e indígenas.

Ela destaca que a aplicação da lei ajuda é uma forma de reconhecer a importância dos grupos sistematicamente excluídos e que tais leis tratam de estimular a produção de conhecimentos, gerar a valorização da cultura negra e indígena, a fim de desenvolver a noção de pertencimento étnico-racial, visando a construção de uma nação democrática, onde todos possam ter seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.

“Na prática, busca enriquecer o currículo escolar a fim de possibilitar o reconhecimento da positivação da imagem negra através de sua história e cultura, promovendo assim condições de empoderamento e ampliação da participação de tais grupos em diferentes espaços sociais”, destaca.

Apesar da obrigatoriedade da lei, Lavini conta que a mesma ainda não vigora em boa parte das escolas do país, conforme pesquisas da área.

“Tal fato se deve a um conjunto de fatores, tais como a carência de disciplinas nas universidade para a formação de professores habilitados a discutir a temática racial e das histórias e culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas”

Ela também destaca que os princípios da lei devam ser aplicados pelos professores pertencentes a esse grupo racial para alunos desse mesmo grupo, muitas vezes a desculpa é “mas não temos alunos negros ou indígenas então não precisamos aplicar tal lei”, muito embora seja um problema da sociedade, mas não é visto assim.

“Entretanto a Prof Nilma Lino Gomes nós coloca que o primeiro passo em direção ao problema seja estar atento e ter empatia”, conclui a educadora.

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