“A cor dessa cidade não sou eu”, desabafa Mariene de Castro sobre não cantar no carnaval de Salvador

A cantora e compositora baiana, Mariene de Castro, usou as redes sociais nesta terça-feira para desabafar sobre os motivos de não ser convidada para cantar o carnaval de Salvador (BA), cidade que ela nasceu e cresceu.

Na publicação, ela elencou alguns dos motivos de não fazer parte da festa em Salvador. Ela mesma se disse pouco surpresa e que isso vem acontecendo com certa frequência. “A cor dessa cidade não sou eu! O canto dessa cidade não é meu! Ainda assim! Seguirei cantando! Pois sou água. Nunca se esqueçam disso”, escreveu.

Ainda na publicação, Mariene lembrou que em determinados momentos, o artista se cobra, acha que o problema está com ele, mas nem sempre é assim. Ela disse também que ela não sabe o real motivo da ausência no carnaval deste ano.

“Não me pergunte por que, que eu não vou saber lhe responder. Eu até já me perguntei isso. E até achei que fosse algo da minha competência. Já cheguei a achar que o problema estava comigo, rs. Mas não tá não. Eu sou do Samba né? Do Samba da Bahia né? Ah tá! O samba da Bahia faz parte do Carnaval de Salvador? Faz? Ah que bom! Então viu”, continuou.

Mariene tem hábito de cantar com um prato na mão, como uma percursionista que é, e fez uma alusão ao prato na mão, aos valores de cachês pagos a outros artistas e a falta de convites para participar de uma das maiores festas do planeta.

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“Deve ser por que… Deixa eu vê… Deve ser que uma cantora que canta com um prato na mão deve tá pedindo esmola né? Será que é por isso que os cachês que são oferecidos não condizem com as fortunas pagas aos artistas que não cantam com um prato na mão? Acho que não vou mais cantar com prato na mão pra vê se o pessoal entende que eu não estou pedindo esmola”, afirma.

“Eu só quero cantar. Com dignidade. A mesma dignidade de todos. Mas todos é uma coisa que não existe. Nem aqui em Salvador nem em lugar nenhum. Tem gente que come ouro e gente que cata lixo pra comer”, completa.

Santo de casa

A cantora lembra ainda que há algum tempo não é convidada para cantar nas festas da cidade e que em outros locais, é tratada como uma verdadeira estrela. “Me lembro que em 2019 fui cantar em Recife no maior Carnaval da Cidade. Fui tratada como rainha. Então é isso. Santo de Casa não faz milagre. Eu estou bem. E desejo um lindo carnaval pra todos”, conclui.

Esta não é a primeira vez que uma artista negra, consagrada nacionalmente, fica de fora do carnaval de Salvador. Em 2019, a atual ministra da Cultura, Margareth Menezes passou por situação parecida e também não cantou no carnaval de Salvador. Em uma nota publicada na época, ela ressaltou que não precisava discutir currículo e que não participava do carnaval de Salvador por dinheiro.

“Não preciso aqui levantar o meu currículo para mostrar nada, minha história e o meu valor como artista está no resultado posto. Nem tudo que se conquista se resume a números. Meu valor e as contribuições trazidas para a minha cidade, como artista, mulher negra conectada com a realidade do meu país e produzindo ativamente ao longo desses 31 anos de carreira”, escreveu à época.