O número de estudantes cadastrados no Fies caiu mais uma vez em 2022. Pouco mais de 50 mil alunos fizeram o financiamento estudantil, um patamar bem distante do auge de 2014, quando o programa teve mais de 700 mil inscritos, segundo dados da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), divulgados nesta quarta-feira (21).
Essa queda de 93% em quase uma década está associada a crise econômica que diminuiu a perspectiva de crescimento dos jovens, de acordo com o diretor-presidente da ABMES, Celso Niskier.
“Para que ele possa financiar um curso superior, ele [aluno] deve ter a expectativa de que vai ter um aumento de renda e, considerando o momento econômico, muitas vezes o jovem fica em dúvida sobre esse investimento na carreira”, diz o diretor em entrevista ao Jornal Hoje.
Além disso, o medo da inadimplência é outra realidade provocada pela crise, que reflete da decisão dos alunos em não se inscreverem no Fies. Já que mesmo com um diploma na mão, “a vida no mercado de trabalho não tem sido fácil” e as parcelas do empréstimo não esperam.
Entre janeiro e outubro deste ano, a taxa de inadimplência do programa chegou a 52% dos contratos ativos, que passam de R$ 2 bilhões. Em 2017, por exemplo, esse índice era de 41%.
O estudante de medicina Igor de Bernardi Borges Araújo se cadastrou no Fies, mas teve que revezar o tempo entre os estudos, a produção e a venda de cookies para complementar a mensalidade da faculdade, já que o financiamento não cobre todo o valor.
“Enquanto eu fazia vestibular, até passei em quinto lugar que estou hoje, mas não tinha dinheiro para pagar na época e o Fies acabou me salvando. Eu pago R$ 2.200 por mês, porque o Fies não custeia tudo no caso da medicina”, explica.
Apesar do esforço, o estudante revela que tios, primos e a irmã o ajudam. O que faz ele não desistir do sonho de cursar medicina. “Sonho é sonho e a minha família está me ajudando a conquistar”, finaliza.
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O professor do Departamento de Educação da PUC-Minas diz que o Fies é uma forma de acesso fundamental ao ensino superior para milhões de estudantes.
“É um momento muito delicado, até porque a maioria dos nossos jovens estão matriculados hoje nas instituições privadas de ensino superior. Elas que possuem mais vagas a serem preenchidas e, quando a gente tem esse não preenchimento, isso revela uma crise do ensino superior de forma geral”, explica.
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