O navio humanitário “Ocean Viking”, com 230 migrantes a bordo, foi recebido nesta sexta-feira (11) na cidade francesa de Toulon, a caráter “excepcional”, informaram as autoridades francesas, após uma queda de braços diplomática com a Itália, que recusou abrir seus portos. Na embarcação, uma criança migrante foi encontrada dentro de uma caixa de papelão, onde estava escrita a palavra “França”. Outras 57 crianças estavam a bordo.
“Recebemos este navio excepcionalmente, tendo em conta os 15 dias de espera no mar que as autoridades italianas impuseram aos passageiros”, declarou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, indicando o porto militar de Toulon, no sul, como lugar de desembarque.
Darmanin criticou o “comportamento inaceitável” da Itália, liderada por um governo de extrema direita que não autorizou a entrada do navio em seus portos. “Um terço” dos imigrantes será “realocado” para a França, e outro terço, para a Alemanha, disse Darmanin. Aqueles que não cumprirem os critérios para o direito de asilo “serão devolvidos diretamente”, acrescentou, sem dar mais detalhes.
França e Itália trocam acusações, após a recusa de Roma a permitir a entrada de embarcações de organizações humanitárias que resgatam migrantes no mar.
As autoridades italianas afirmam que outras nações da UE devem assumir um papel maior na recepção aos milhares de migrantes que tentam chegar à Europa, procedentes do norte da África.
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O ministro Darmanin indicou que “as coisas terão que ser organizadas de outra forma, para que a Itália não possa aproveitar a solidariedade europeia e ser egoísta quando os refugiados, especialmente as crianças, chegarem” aos seus portos.
Ele advertiu que é “óbvio que haverá consequências extremamente graves para as relações bilaterais” com a Itália. Em um gesto de protesto, a França decidiu suspender “de forma imediata” o acolhimento em seu território de 3.500 refugiados que estão na Itália.
“A reação da França ao pedido de receber os 234 migrantes do ‘Ocean Viking’ é totalmente incompreensível, especialmente porque a Itália recebeu 90.000 este ano”, disse o ministro do Interior italiano, Matteo Piantedosi, em comunicado.
Na quinta-feira, quatro dos 234 migrantes a bordo do “Ocean Viking” foram levados para a ilha francesa da Córsega: três deles, por motivos médicos; e o quarto, como acompanhante.
A decisão da França foi tomada depois que a ONG SOS Méditerranée, que opera o navio, solicitou a medida, devido à recusa da Itália de oferecer acesso a um porto.
Poder atracar em Toulon é um “alívio amargo”, disse à AFP a diretora da SOS Méditerranée, Sophie Beau. Esta longa espera no mar “mostra que é urgente que os Estados europeus ponham em prática um mecanismo de distribuição permanente” para os migrantes resgatados no Mediterrâneo, depois de terem fugido, em muitos casos, da Líbia, em embarcações precárias.
Os migrantes, incluindo 57 crianças migrantes, serão levados para uma área de espera internacional para aguardar o processamento de seus pedidos de asilo. “Aqueles que não obtiverem asilo serão transferidos diretamente da sala de espera para seu país de origem”, disse Darmanin.
Fonte: AFP