Na manhã desta segunda-feira (17), um levantamento, realizado pelo jornal O Globo, revelou que 58,5% das mulheres candidatas com menos de 50 votos nas eleições gerais deste ano eram negras. Ao todo, das 388 candidatas com menores votações, 66 eram candidatas autodeclaradas pretas e 161 pardas, segundo os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Além disso, o estudo revela também que as mulheres negras são as mais subfinanciadas e negligenciadas durante as eleições, provocando um “sofrimento duplo”. O Ministério Público Federal utiliza esses casos, com menor patamar de votação, para mapear possíveis candidaturas “laranjas”, aquelas que existem para aumentar os repasses do fundo eleitoral, transferidos aos partidos políticos.
Para a primeira suplente como deputada federal de MG pelo PSOL, Iza Lourença (Psol), a igualdade de gêneros na política não chega a ser uma utopia, mas alerta. “A igualdade de gêneros na política não é uma utopia, no sentido de que ela pode ser alcançada, não é ilusória, mas ainda estamos distantes desse ponto. Temos avançado, mas a caminhada ainda vai ser longa”, afirma.
Ela ressalta ainda que esses dados só reforçam as dificuldades que as mulheres negras enfrentam no dia a dia dentro da política brasileira. “Vejo de forma muito negativa, porque ele representa a dificuldade que a mulher negra tem na política institucional, de estar nos parlamentos brasileiros. A gente teve alguns avanços no último período, com o apelo principalmente entre as pessoas que votam nos partidos de esquerda, de votar nas mulheres negras, mas a verdade é que a gente ainda está muito longe de uma representação razoável”, analisa.
Leia também: Bolsonaro volta a questionar urna eletrônica e diz que análise está sendo feita pelas Forças Armadas
Somente o PTB, que recebeu R$ 114 milhões do fundo eleitoral, conta com 15 candidaturas de pessoas negras que estão dentre esses candidatos menos votados. Outra mudança na legislação, colocada em prática nesta eleição, é que o TSE estipulou que os partidos políticos devem distribuir os recursos do “fundão” proporcionalmente por gênero, cor e raça, além de ter em seus quadros, no mínimo, 30% de candidaturas femininas.
Segundo o TSE, o percentual de mulheres eleitas neste ano corresponde a 18% do total de cadeiras e, levando-se em consideração a cor, mulheres negras serão apenas 5% na próxima legislatura.
“Podemos dizer que as mulheres negras representam um quarto da população brasileira, mas ainda estamos muito longe de representar um quarto das pessoas que decidem política sobre o nosso país. então, por mais que a gente teve um avanço na representação política mulheres negras, nós ainda estamos muito longe de uma representatividade razoável daquilo que constitui a sociedade brasileira”, comenta.
Regionalização
O norte do país é o que mais apresenta candidaturas com pouca votação. Roraima registrou 29 candidatas e, apenas Tina Bernabé (Solidariedade) informou ter desistido do pleito e, ainda assim, obteve dois votos. Em outro caso de desistência, desta vez em Pernambuco, Thamires Silva (PRTB), também informou que abriu mão da candidatura.