“A transição capilar tem que ser uma ferramenta de empoderamento”, diz Gleici Damasceno

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Atriz, influencer e ex-participante do Big Brother Brasil (BBB), Gleici Damasceno, passou boa parte da vida com cabelos não naturais, relaxados. Após a vitória no programa global, ela decidiu entrar de vez na transição capilar e voltar às suas origens.

Em entrevista ao Notícia Preta, no evento de lançamento de produtos de beleza da L’Oréal Paris no Brasil, na última semana, Gleici falou um pouco sobre sua relação com o seu cabelo, sua experiência com a transição capilar e a importância de se conectar com suas raízes. 

Gleici falou com o NP, com exclusividade – Foto: Redes Sociais

Notícia Preta: A experiência do BBB deve ter sido transformadora, mas a mudança capilar também muda as pessoas. Como essa mudança transformou você?

Gleici Damasceno: Eu gostava muito do meu cabelo antes de alisar, que não era tão cacheado, mas que depois de um período alisado, que eu voltei a ter ele natural, eu conheci de novo! Acho que comecei a usar os produtos certos, e aí eu vi que ele era mais cacheado. Mas eu aceitei todos os meus cabelos, sabe? Tanto antes de alisar, ele alisado também… mas eu acho que eu olho no espelho e penso: ‘Esse é o meu cabelo, essa sou eu’. 

NP: O que a transição capilar representa para você?

GD: Tem muitas meninas negras que usam o cabelo alisado e se sentem até pressionadas, porque hoje temos mais pessoas aceitando seus cabelos, mas eu sei o quanto é difícil passar pela transição e eu acho que se a pessoa quer muito, uma hora vai chegar. Eu mesma já tentei outras vezes na minha vida, e não tinha conseguido. Eu acho que a transição capilar tem que ser uma ferramenta de empoderamento, e não de imposição… Eu acho que tudo é um processo.

NP: O que você diria para uma menina que quer muito seguir por esse caminho de transição capilar mas que não se sente tão motivada?

GD: O que eu diria é que tudo passa! Eu acho que é clichê falar isso, mas é verdade! Tudo passa mesmo e vai chegar um momento que você vai ver que é só o tempo mesmo. Porque eu ainda considero que estou passando pela transição capilar, na realidade, porque agora eu quero que ele ganhe comprimento mas eu sei que é só relaxar que vai acontecer. Então, tudo é um processo, a gente fica muito ansiosa e num momento de muita insegurança porque o cabelo mexe bastante com a nossa autoestima né?

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Então, procurar depoimento de pessoas que já passaram por essa experiência, ter esse apoio e saber que outras pessoas também estão passando por isso é legal! Da primeira vez que eu fiz a transição capilar eu não tive isso, então acho muito importante.

Antes e depois da transição capilar – Foto: Reprodução

NP: Como você enxerga esse movimento de mulheres exaltando suas origens não só através do cabelo?

GD: Eu não sei se sou a melhor pessoa para responder isso, mas… quando a pessoa olha pra mim e me vê como uma referência de mulher negra, que veio da periferia, eu fico muito feliz com isso, mas internamente eu ainda tenho questões que eu sei que precisam ser resolvidas. E eu sei que a gente, enquanto mulher negra, enquanto jovem negro, principalmente de onde a gente veio, temos que estar a todo tempo vigiando muito para não cair em armadilhas.

Tem muitas coisas ainda que eu não me abri com as pessoas para falar, sobre muitos processos que eu vivi. Eu não tenho muita segurança pra falar porque aqui no Brasil tudo que a gente fala, principalmente a gente, você sabe, as pessoas dizem “ah, é mimimi”, “fez porque quis”, mas existem muitas coisas por trás que induzem a gente.

NP: E como você acha que pessoas negras podem se defender disso?

GD: Eu acho que temos que estar muito junto dos nossos, conectado com a nossa origem, perto da nossa essência! Eu passei um mês no Acre, e eu voltei tão forte de lá, entendendo o que me faz estar lá. As pessoas, as história. Isso faz parte de mim. Mais do que a gente não esquecer, é a gente estar junto mesmo, sempre voltar para aquele lugar.

Isso faz a gente entender o que é mais importante de fato. Quando eu estava lá, passei um tempo com os povos originários, e minha vó é descendente deles, e ouvindo as histórias eu fiquei super emocionada e pensando: “essa história é a minha história”. 

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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