Em audiência realizada na Comissão de Direitos Humanos do Senado, ex-trabalhadores do McDonald’s registraram denúncias de LGBTQIA+fobia, racismo, assédio moral e sexual, exploração e maus tratos contra a rede de lanchonetes. Além disso, apontaram que a comida servida aos funcionários estava, por vezes, vencida, e alegaram que suas escalas de trabalho eram intermitentes e em ambiente precário. As queixas foram registradas, na última segunda-feira (8).
Em Curitiba, um ex-trabalhador da rede relatou que logo na primeira semana de trabalho, recebeu apelidos racistas e homofóbicos e, quando reportava para sua gerente a época, ela dizia que era apenas uma brincadeira. O jovem negro disse também, que nunca foi colocado no balcão de atendimento aos clientes e sempre era designado para trabalhos subalternos. “Não somos colocados no balcão, pra vender lanche. A gente vai limpar chão, limpar banheiro, gordura. Vai pro quiosque ficar horas sem poder ir ao banheiro”, acrescentou em depoimento à comissão.
Ele conta ainda que saiu da loja porque seu superior ejaculou em cima dele enquanto ele descansava em seu intervalo. ”Eu desci chorando, procurei minha gerente, que olhou pra mim e disse: ‘’vai (nome do trabalhador) não precisa de drama. Vai lavar isso e depois a gente conversa’’. Ele também contou que os atos de assédio eram constantes, onde seu superior por vezes o mandava vídeos impróprios, o procurava nas redes sociais e ainda, teve seu celular invadido pelo superior, que apagou parte das provas do celular do jovem.
Com as provas que restaram, o jovem procurou a campanha “Sem Direitos Não é Legal” que o acolheu e o auxiliou com as denúncias. ”Se eu tivesse na época um sindicato que estivesse comigo talvez eu não tivesse passado por isso. Ninguém sabe lá dentro o que é um sindicato”, finalizou.
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Outra ex-trabalhadora que ficou na loja de 2017 a 2019 também foi uma das vítimas de assédio e discriminação. Ela que sonhava com um plano de carreira, teve seus sonhos frustrados após a troca de gerência. “Disseram que eu era gorda demais, que a anfitriã tem de ser o cartão postal, que eu não era capaz” contou à comissão. A jovem acabou desenvolvendo protusão discal lombar, uma espécie de deformação permanente na coluna, devido à função que lhe foi atribuída na época. Ela também foi encaminhada para a função de limpar as 21 lixeiras do ambiente e o chão do estabelecimento todos os dias.
Após constantes agressões verbais por parte dos superiores, ela acabou desenvolvendo quadros de depressão e ansiedade. Tive várias crises de ansiedade na loja, onde por vezes achei que ia morrer, o que levou a internação por seis meses em clínica psiquiátrica, longe de tudo e de todos. Desenvolvi também pedras nos rins, porque lá os funcionários não podem beber água. ‘’Ainda que leve sua garrafinha, não têm o direito de encher” disse ela junto aos demais ex-trabalhadores do Mcdonald’s.
Um colega de trabalho da jovem no Mcdonald’s contou ter sido vítima de racismo inúmeras vezes e relata uma vez em que foi acusado de roubar a caneta da gerente e teve seus pertences mexidos por ela enquanto ele trabalhava. Também disse que ao tentar pegar o esfregão para limpar a gordura no chão, o superior o impediu e o ordenou que pegasse um pano e limpasse ajoelhado. ”Parece que o que ele queria não era ver resolver o problema, mas me ver ajoelhado ali, a gente suspira, pensa, mas não pode abandonar o serviço, tem responsabilidade”, disse.
Apesar de convidados a comparecem na reunião Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, nenhum representante da empresa esteve presente. Em carta enviada à comissão a empresa disse cumprir um “rígido código de conduta”.