Ver Taís Araújo na capa da Vogue de novembro, mês da Consciência Negra, trouxe-me algumas memórias. Há quem possa achar a escolha clichê, não as critico, mas esta edição da publicação (não só pela capa) me fez pensar sobre a palavra representatividade.
Não é a primeira vez que a atriz está em uma capa de revista em 2018. No meio do ano, ela fotografou para a Glamour e comentou na edição sobre sua paixão por Paris e sobre a felicidade em levar a mãe e a irmã para um lugar que tanto gosta. Antes disso, também já havia estrelado, por exemplo, a Boa Forma. É ótimo percebermos esta abertura para uma mulher negra mostrar sua beleza e falar de saberes que não envolvem apenas a questão da raça. Em todas as capas, Tais usa um estilo diferente de trança, exibe uma maquiagem atual, e veste roupas de grife.
Você pode achar que isso se trata apenas de consumo, eu digo que isso é representatividade. Ver uma mulher negra usando uma maquiagem com acabamento impecável, feita com itens da “Quem disse, berenice?” (da qual é garota-propaganda), que é uma marca acessível, mostra que o indivíduo negro criou uma consciência de si e da potência de sua beleza de tal forma que não pode mais ser ignorado pelo mercado. Vê-la usando diversos tipos de acabamentos de cabelo, que são reproduzidos nas ruas, mostra que o alisamento é apenas mais uma opção de penteado e não a “solução” para o nosso crespo/cacheado.
A sensação de que enfim estamos começando a ser enxergados ganhou mais força ao me deparar com Michelle Obama na capa da Elle Estados Unidos, impulsionando o lançamento de seu livro de memórias, e com a atriz Lupita Nyong’o na da Vogue Espanha, ambas publicadas em novembro (lembrando que o Dia da Consciência Negra é uma mobilização nacional). Todas são publicações de moda, todas fugiram dos carões óbvios de modelo para dar espaço a mulheres reais.
A edição da Vogue Brasil, que em Novembro sempre homenageia o Rio de Janeiro, ainda abriu espaço para os youtubers Spartakus Santiago e Gabriela Oliveira; para a cantora Malía; para o jornalista Edu Carvalho; e para as modelos Vitória Cribb, Ana Paula Patrocínio e Raquel Félix, da agência Jacaré Moda, na reportagem “Novas Vozes”. Mais rostos, corpos e saberes da nossa negritude que luta diariamente para ser ouvida e reconhecida fora dos clichês.
Óbvio que o caminho para uma representatividade efetiva ainda é longo. Reconheço que todas elas são mulheres negras famosas, reconhecidas pelo grande público, o que facilita a escolha. Mas isso não pode invalidar o que está acontecendo. Poder pegar uma revista e de fato me inspirar na beleza, na combinação de cores e na produção de moda porque nela há um ensaio com mulheres que parecem comigo não tem preço!