A Companhia de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA) estreou com Pele Negra, Máscaras Brancas na abertura do III Fórum de Arte e Cultura, em Salvador. Seria mais um bom espetáculo se não fosse o primeiro a ser encenado por uma diretora negra, Onisajé (Fernanda Júlia), após 63 anos de criação da Escola de Teatro da universidade baiana.
Com elenco negro e texto do dramaturgo, Aldri Anunciação, a peça se baseia na tese de Frantz Fanon. A obra é considerada uma leitura obrigatória para discussões sobre o racismo, já que traz na ficção personagens analisados pelo psiquiatra e filósofo.
É triste ser a primeira. Tem muita mulher preta antes de mim, que me inspira, que me orienta e que fez com que eu escolhesse ser encenadora”
Mestra e doutoranda em Artes Cênicas, professora da Escola de Teatro da UFBA, e fundadora do Núcleo Afro brasileiro de Teatro de Alagoinhas – NATA, Onisajé aproveita a assinatura da peça para fazer um protesto e reivindicar mais espaços para os negros em locais de destaque.
“Eu chamo de ato político. É triste ser a primeira. Tem muita mulher preta antes de mim, que me inspira, que me orienta e que fez com que eu escolhesse ser encenadora. Eu fico lisonjeada por conta do que isso significa na minha carreira, mas isso é uma denúncia. Não era para eu ser a primeira, era para eu ser a décima, a vigésima, a octogésima. Temos muitas pretas e pretos com muito talento, com muito trabalho, com muita contribuição e que tinham que estar ocupando estes espaços de liderança”, comenta diretora.
Para Onisajé, dirigir o espetáculo e ter um aumento no quadro de docentes negros na Escola de Teatro da UFBA é resultado da força dos que lutaram antes da sua entrada na Instituição, citando nomes como Mário Gusmão, Arany Santana, Evani Tavares, Angelo Flávio, dentre outros.
“É um absurdo em 2019 eu ser a primeira de uma escola que tem 60 anos, essa escola tem que se rever e eu sinto que está mudando. Só a minha presença e a possibilidade da criação de espetáculos como Gusmão: Anjo negro e sua legião e Pele Negra, Máscaras brancas, além da chegada de professoras como Alexandra Dumas, Stênio Soares, Licko Turle, Jorge Mascarenhas. Até então como professor negro tínhamos apenas Érico José. Está mudando e vai mudar, porque a gente não vai descansar”, completa Onisajé.
O espetáculo está em cartaz de 23 de março a 14 de abril, de sexta à domingo, às 19h, no Teatro Martim Gonçalves, com entrada gratuita.
Muito Asé!