Uma semana após Jair Bolsonaro e vários membros do governo receberem a deputada alemã Beatrix von Storch, do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), e neta do ministro das Finanças de Hitler – quem liderou o confiscos dos bens dos judeus enviados para os campos de concentração e o extermínio durante a ditadura do Partido Nazista -, uma antropóloga encontra carta de Bolsonaro, datada de 2004, em site neonazista.
De acordo com a antropóloga, grupos neonazistas brasileiros apoiam Jair Bolsonaro há pelo menos 17 anos, segundo reportagem do The Intercept.
Doutora em antropologia social e professora da Unicamp, Adriana Dias pesquisa, há 20 anos, a movimentação de grupos neonazistas no Brasil. Segundo ela, antes de derrubar os sites, ela imprimiu várias páginas de sites neonazistas em língua portuguesa. “Eu abri em uma página aleatória e ali estava o nome de Jair Bolsonaro”, contou ela ao The Intercept.
“Todo o retorno que tenho dos comunicados se transforma em estímulo ao meu trabalho. Vocês são a razão da existência do meu mandato. Em dezembro estou completando 16 anos de vida como parlamentar contra os 15 de serviço ao nosso glorioso Exército Brasileiro”, disse Jair Bolsonaro em uma carta, publicado em 2004 no site neonazista Econac. Ainda de acordo com a pesquisadora, a mensagem não foi publicada em nenhum outro lugar na internet, apenas nessas páginas.
Três sites diferentes de neonazistas trazem um banner com a foto do presidente – com link que leva diretamente ao site que ele tinha na época – e também a carta. No texto, ele diz também: “Ao término de mais um ano de trabalho, dirijo-me aos prezados internautas com o propósito de desejar-lhes felicidades por ocasião das datas festivas que se aproximam, votos ostensivos aos familiares”.
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“Quando eu peguei uma parte dessa página, lá estava a carta do Bolsonaro. Eu fiquei bem chocada e então pedi para minha estagiária varrer todo site. A partir daí a gente achou mais coisa no Econac e num outro grupo também, o Poder Branco, que também fazia referências a Bolsonaro. No caso do Econac, que tinha banners e a carta, havia mais menções lá a Bolsonaro”, conta Adriana.
Não é a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro já demonstrou ligação com neonazismo. Seu ex-secretário especial da Cultura reproduziu, no início de 2020, em discurso, falas, ambientação e postura, um vídeo copiando o político nazista Joseph Goebbels. Seu assessor especial, Filipe Martins, é réu por fazer um gesto de white power em uma sessão do Senado. Assim como também elogiou as qualidades de Hitler e disse que o holocausto poderia ser perdoado.
“Na verdade, o teor do documento (carta) não é o mais importante. O mais importante nessa carta é que ele diz que essas pessoas são a razão do mandato dele e essa carta só foi publicada em sites neonazistas e em nenhum outro canto. Os banners, para mim, têm até mais importância do que a carta em si, porque geravam um tráfego intenso para a página dele (Bolsonaro)… O tráfego do site dele, à época, vinha 90% de sites neonazistas, eram até 300 mil visitas, medidas pela ferramenta Alexa, o que já é muito hoje, mas naquela época (2004) era algo gigantesco”, diz a pesquisadora.
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