Porto Alegre registrou um crescimento significativo da população negra nas últimas décadas, segundo dados do boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), divulgado nesta quinta-feira (11). De acordo com o levantamento, a proporção de pessoas pretas e pardas na capital gaúcha passou de 20,2% em 2010 para 26% em 2022, refletindo uma variação de 5,8% no período analisado com base no Censo do IBGE.
Atualmente, dos 1.330.845 moradores da cidade, 345.391 se autodeclaram negros. O crescimento é observado em diferentes faixas etárias, com mais de 19 mil crianças de até 9 anos identificadas como negras, mantendo equilíbrio entre meninos e meninas. A partir dos 10 anos, porém, a população feminina se torna majoritária, com 159.495 mulheres negras, frente a 142.090 homens.

A distribuição territorial também revela aspectos importantes da dinâmica racial da capital. Dos 94 bairros de Porto Alegre, 35 têm população negra igual ou superior a 26%. A Restinga lidera o ranking, com 47% de moradores autodeclarados negros. Outros nove bairros superam a marca de 40%, entre eles Bom Jesus, Lomba do Pinheiro, Rubem Berta, Mário Quintana e Farrapos, territórios historicamente marcados por desigualdades socioeconômicas e menor acesso a políticas públicas estruturantes.
O boletim chama atenção para contrastes persistentes nas condições de vida e saúde da população negra. Embora a taxa geral de natalidade na cidade esteja em queda, o maior número de nascidos vivos ocorre entre pessoas pretas, quando comparado a pardas e brancas. Ao mesmo tempo, essa população apresenta maiores índices de incidência de doenças e de mortalidade, indicando que o crescimento populacional não tem sido acompanhado por melhorias proporcionais nas condições de saúde.
Essas desigualdades se manifestam desde o nascimento. O documento aponta maior ocorrência de condições adversas ao nascer entre bebês negros, como dificuldades no pré-natal e maior incidência de baixo peso. A menor continuidade do cuidado ao longo da infância contribui para a reprodução dessas vulnerabilidades ao longo da vida.
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Na área da violência, o cenário é ainda mais grave. Homens negros concentram as maiores taxas de homicídio na cidade, evidenciando o impacto do racismo estrutural na exposição à violência letal. O boletim também reúne dados sobre agravos que atingem de forma desproporcional a população negra, como HIV/Aids, sífilis, hepatites, tuberculose, doença falciforme e hanseníase.
Para a gerente da Unidade de Vigilância Epidemiológica da SMS, Patrícia Conzatti, acompanhar esses indicadores é essencial. Segundo ela, monitorar as desigualdades historicamente construídas é condição fundamental para transformar realidades e avançar na promoção da equidade em saúde em Porto Alegre.









