Quase metade das mulheres dizem não serem tratadas com respeito no Brasil

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A percepção de desrespeito contra mulheres permanece elevada no Brasil e expõe desigualdades estruturais de gênero e raça. Segundo a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher 2025, realizada pelo DataSenado, 46% das entrevistadas afirmam que as mulheres não são tratadas com respeito no país, índice estável em relação a 2023.

O levantamento, que ouviu 21.641 mulheres em todas as regiões brasileiras, mostra ainda que 70% acreditam que o Brasil é um país muito machista, o maior percentual da série histórica. Para especialistas, essa percepção reflete a vivência cotidiana de violência simbólica, moral e psicológica que antecede formas mais graves de agressão.

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Embora a pesquisa apresente dados gerais, o histórico consolidado por estudos do IPEA, FBSP e IBGE aponta que mulheres negras são desproporcionalmente afetadas pela violência, física, psicológica e institucional. Elas representam a maior parcela das vítimas de feminicídio no país, além de serem mais expostas ao desrespeito em espaços públicos e privados.

Na pesquisa do DataSenado, esse recorte aparece de forma indireta, mas evidente:

  • o desrespeito é mais percebido entre mulheres de menor escolaridade, faixa na qual mulheres negras estão sobrerrepresentadas;
  • regiões com maiores desigualdades socioeconômicas, Norte e Nordeste, registram percentuais mais elevados de percepção de falta de respeito, sendo 50% para cada região.

O cruzamento desses dados com levantamentos anteriores reforça que a experiência de desrespeito é intensificada pela combinação de machismo e racismo, afetando diretamente a autonomia e o bem-estar de mulheres negras. Para analistas, esse contexto racial evidencia que o desrespeito não é apenas uma percepção individual, mas um reflexo direto do racismo e do machismo estruturais que moldam as relações sociais no Brasil.

Além da percepção de desrespeito, a pesquisa revela que muitas mulheres vivenciam violências que não reconhecem como tal. Segundo o DataSenado, 29% das entrevistadas que afirmam não ter sofrido violência relataram, na verdade, ter passado por agressões físicas, psicológicas, sexuais, patrimoniais ou morais. Isso representa aproximadamente 25 milhões de mulheres em situação de violência no período de 12 meses.

A naturalização da violência atinge de forma mais profunda mulheres negras, que também relatam pior acolhimento institucional, mais dificuldade em denunciar e maior exposição a vínculos afetivos e econômicos com agressores.

A rua continua sendo apontada como o lugar onde as mulheres são menos respeitadas, seguida pelo ambiente familiar; este último com aumento significativo, atingindo estimadas 18,3 milhões de brasileiras que identificam a casa como local de menor respeito.

Para organizações de direitos das mulheres, esse dado é um alerta de que o ciclo de violência se perpetua justamente em espaços onde deveria haver proteção.

Círculo de violência persistente

Entre as mulheres que sofreram violência, 58% convivem com agressões há mais de um ano, evidenciando o ciclo prolongado de abusos e a dificuldade de romper com vínculos afetivos e dependência econômica.

A pesquisa mostra também que a violência impacta profundamente todas as áreas da vida:

  • 69% tiveram a rotina alterada;
  • 68% relataram impacto no convívio social;
  • 46% foram prejudicadas na vida profissional.

Mobilização nas ruas e urgência de políticas públicas para respeito às mulheres

A divulgação da pesquisa ocorre em um momento de mobilização social crescente, com protestos recentes em diversas capitais cobrando políticas mais eficazes para enfrentar a violência de gênero.

Especialistas afirmam que os dados reforçam a necessidade de ações que considerem recorte racial, fortalecimento da rede de proteção, ampliação do acesso à justiça e campanhas de educação de longo prazo.

Leia também: Pesquisa revela que agressões contra mulheres são frequentes e presenciadas por crianças

Jaice Balduino

Jaice Balduino

Jaice Balduino é jornalista e especialista em Comunicação Digital, com experiência em redação SEO, assessoria de imprensa e estratégias de conteúdo para setores como tecnologia, educação, beleza, impacto social e diversidade. Mineira e uma das mentoradas selecionada por Rachel Maia em 2021. Acredita no poder da colaboração e da inovação para transformar narrativas e impulsionar negócios com excelência

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