Um novo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela um cenário persistente de desigualdade no acesso ao ensino superior no Brasil. De acordo com os dados publicados na última terça-feira (25), apenas 15% das mulheres negras e 11% dos homens negros concluíram a educação universitária. Entre pessoas brancas, a proporção ultrapassa o dobro: 33% das mulheres brancas e 27% dos homens brancos possuem diploma.
A pesquisa reforça que, apesar da expansão das universidades e dos programas de inclusão nas últimas duas décadas, a graduação ainda é um espaço marcado por barreiras econômicas, educacionais e estruturais que afetam principalmente a população negra.

Pesquisadores do Ipea apontam que o abismo no ensino superior é reflexo de um percurso escolar desigual desde os primeiros anos. A taxa de conclusão do ensino médio ainda é menor entre jovens negros, que também enfrentam maiores dificuldades de acesso a escolas de melhor infraestrutura e preparação adequada para processos seletivos.
Para especialistas consultados pelo Brasil de Fato, a distância no acesso à universidade não é apenas um dado educacional, mas um indicador direto das condições de vida do país. “A conclusão do ensino superior está ligada a renda, oportunidades e tempo para se dedicar aos estudos. Quando esses elementos são distribuídos de forma desigual, o resultado aparece nos números”, disse a pesquisadora Denise Botelho, da Universidade de Brasília (UnB).
Mulheres negras enfrentam dupla jornada e menos oportunidades no ensino superior
Apesar de serem maioria entre pessoas negras com diploma, 15% contra 11% dos homens, as mulheres negras seguem ocupando os postos mais precarizados do mercado de trabalho.
Segundo Denise Botelho, isso acontece porque a formação acadêmica, quando alcançada, não se converte nas mesmas oportunidades profissionais vistas entre mulheres e homens brancos. “Mesmo com o diploma, ainda existe uma barreira para que mulheres negras avancem para cargos de liderança, salários maiores e estabilidade profissional”, afirma.
O estudo também reforça a importância das políticas de cotas e, principalmente, das políticas de permanência, como moradia, alimentação, transporte e bolsas. Sem esses mecanismos, muitos estudantes negros não conseguem concluir a formação.
De acordo com o Ipea, a evasão entre estudantes negros no ensino superior é maior justamente pela dificuldade de se manter na universidade, e não pela falta de matrículas.
Especialistas defendem que, para reduzir o abismo educacional, o país precisa ampliar programas de acesso e permanência, investir na qualidade da educação básica e garantir políticas públicas voltadas ao mercado de trabalho que incluam jovens negros recém-formados.
Para organizações do movimento negro, os dados mostram que a formação universitária ainda não é um direito igualmente acessível para toda a população brasileira.
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