No Brasil, 151 agentes da ativa morreram por violência autoprovocada em 2024. Apesar de representar uma queda em relação a 2023, com 174 mortes, pesquisadores apontam que os dados reforçam a permanência de um quadro de sofrimento psíquico crônico entre os profissionais de segurança pública.
Os dados fazem parte do Boletim de Notificação de Mortes Violentas Intencionais Autoprovocadas e Tentativas de Suicídio entre Profissionais de Segurança Pública de 2025, publicado nesta terça-feira (25) pelo Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES). A pesquisa reúne informações acessadas via Lei de Acesso à Informação, dados extraoficiais levantados em fontes públicas, registros compartilhados por agentes de segurança, além de dados obtidos por meio de uma parceria inédita com a PMERJ.

“Uma redução nesses números é sempre positiva, mas ainda é cedo para associá-la diretamente a políticas públicas específicas. Temos visto maior interesse no tema e novas iniciativas. São avanços importantes, mas ainda precisamos de um acompanhamento por mais tempo para afirmar com segurança que esses resultados decorrem dessas iniciativas”, explica a coordenadora da pesquisa, Fernanda Cruz.
Em cinco anos, ao menos 818 profissionais de segurança pública em atividade morreram por violências autoprovocadas no Brasil. Segundo a pesquisadora do IPPES, Talita Nascimento, o número pode ser ainda maior devido à subnotificação dos casos. A pesquisadora aponta dificuldade na obtenção de dados das instituições de segurança.
“Quando falamos de dados sobre suicídio, a discussão sobre transparência fica ainda mais delicada. As instituições não tratam o tema como uma responsabilidade institucional nem estruturam políticas de prevenção. O suicídio ainda costuma ser visto como problema individual, sem relação com o ambiente de trabalho”, comenta Talita.
Paraná lidera ranking de tentativas de suicídio
A Polícia Militar do Paraná responde por 57% das tentativas de suicídio entre profissionais de segurança pública no Brasil. De 2020 a 2024, foram 844 casos envolvendo agentes da corporação. No mesmo período, o país contabilizou 1.474 tentativas de suicídio entre agentes de segurança pública. As PMs concentram 91% das ocorrências em território nacional, com 1.342 casos em cinco anos.
O levantamento coloca o Paraná na primeira posição do ranking nacional de tentativas de suicídio entre agentes de segurança pública em cinco anos. O estado notificou 13 suicídios de agentes da ativa nos anos analisados. São Paulo aparece em segundo lugar no ranking de tentativas, com 221 casos, e lidera em número de suicídios consumados, com 184 vítimas no período.
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“É necessário perguntar o que é considerado tentativa de suicídio em cada instituição e como esse dado é construído. Esse é um fenômeno presente em todas as forças de segurança, mas o estado do Paraná aparece como protagonista nesses números, provavelmente por realizar um registro mais fiel ao que acontece na prática”, explica Fernanda Cruz.
Feminicídio antecede parte das mortes por suicídio
Em 2024, o Brasil registrou o maior número de homicídios ou feminicídios seguidos de suicídio da série histórica: 18 agentes de segurança pública morreram nessas circunstâncias, fazendo outras 19 vítimas. O levantamento aponta que a maioria dos casos está ligado à violência doméstica.
Entre as vítimas de homicídio, 12 eram companheiras ou ex-companheiras dos autores. O fenômeno acompanha as estatísticas. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2024, o país contabilizou o maior número de feminicídios desde a criação da tipificação, em 2015, com 1.492 mulheres assassinadas.
“Mesmo quando o policial é afastado do trabalho e tem o porte funcional suspenso, ele continua com acesso à arma particular em casa. Isso indica que as famílias seguem desprotegidas. Falar em prevenção ao suicídio nas instituições de segurança pública também exige enfrentar a violência doméstica”, comenta Fernanda Cruz.
Sobre o IPPES:
O Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES) foi fundado em 2020 como desdobramento do Grupo de Estudos em Suicídio e Prevenção (GEPeSP), criado em 2013 no Laboratório de Análise da Violência da UERJ.
A atuação do grupo ganhou projeção com a publicação do livro Por Que Policiais Se Matam (2016), referência para a criação da Lei 8.591/2019, que instituiu o Programa de Prevenção de Violências Autoprovocadas no Rio de Janeiro.
Desde então, o IPPES vem se consolidando como uma organização sem fins lucrativos dedicada à produção de conhecimento técnico-científico e ao desenvolvimento de metodologias de prevenção do suicídio em instituições de segurança pública, escolas e empresas.









