Menos da metade dos agentes da elite da Polícia Civil do Rio de Janeiro utilizou câmeras corporais durante a ‘Operação Contenção’, ação que reuniu milhares de policiais e terminou com 121 mortos, no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio, no dia 28 de outubro. A informação foi dada pelo delegado Fabrício de Oliveira, coordenador da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), em depoimento ao Ministério Público estadual.
Segundo Oliveira, dos 128 policiais civis da Core mobilizados, apenas 57 atuaram com câmeras ligadas. O delegado afirmou que a unidade possui 100 equipamentos disponíveis, mas relatou falhas na retirada das câmeras antes da operação, parte delas não pôde ser retirada das docas, onde ficam armazenadas e carregadas, por supostos problemas técnicos.

O delegado explicou que, na saída para a operação, alguns agentes “não conseguiram retirar os equipamentos da parede”, o que teria ocorrido em função da pressa e do grande volume de policiais destacados. Segundo ele, essa mobilização inédita de efetivo contribuiu para “problemas na dinâmica de retirada”. A empresa responsável pelas câmeras, o L8 Group, informou que análises preliminares indicam que todas as 100 câmeras estavam aptas para uso, mas disse estar investigando a situação.
A Operação Contenção reuniu policiais da Core, do Bope, batalhões da PM e outras unidades, mais de 2.500 agentes, segundo o governo estadual. Relatos apontam que a maior parte do confronto ocorreu em áreas da Serra da Misericórdia, no Complexo da Penha.
O Ministério Público encaminhou o depoimento de Oliveira ao ministro Alexandre de Moraes, no âmbito da ADPF 635, que trata do controle de operações policiais em favelas. Moraes determinou que o governo do Rio preserve todas as imagens das câmeras utilizadas e envie a lista completa de policiais envolvidos na ação.
O relatório enviado pelo MP também menciona dois mortos com “lesões atípicas”. Um deles apresentava sinais de disparo à curta distância. O outro, identificado como Yago Ravel Rodrigues Rosário, 19 anos, foi encontrado decapitado, a cabeça estava pendurada entre galhos de uma árvore, segundo documentos enviados ao STF.
O MP informou ainda que realiza reconstrução 3D dos corpos e que divulgará laudos finais assim que o processo de catalogação das imagens for concluído.
A baixa adesão às câmeras corporais, consideradas essenciais para transparência em ações policiais, reforça questionamentos sobre a legalidade, a proporcionalidade e o controle da Operação Contenção, a mais letal da história recente do Rio.









