Desigualdade racial afeta condições de deslocamento de trabalhadores, aponta IBGE

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No novo relatório do censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgado nesta quinta-feira (9), mostra que a desigualdade racial no transporte reflete as disparidades sociais e econômicas do país. Os dados demonstram que não é apenas onde se mora ou onde se trabalha que o Brasil se mostra desigual — é também quem se desloca e como se desloca.

Segundo o censo, há disparidades claras no tempo de deslocamento até o local de trabalho quando se observam os recortes de cor ou raça. Pessoas negras (pretas e pardas) tendem a percorrer trajetórias mais longas ou a depender de meios de transporte menos eficientes, comparadas às de pele branca, que se concentram mais em áreas com infraestrutura de mobilidade mais robusta.

Além disso, as taxas de utilização de transporte público, de caminhada ou de modalidades alternativas variam significativamente entre os grupos raciais, reflexo direto de como a segregação espacial, a precariedade de redes de transporte e a falta de planejamento urbano impactam sobretudo as populações historicamente marginalizadas.

Serviços impactam diretamente moradores na periferia

Espaço periférico / Foto: Freepik

A geografia do racismo urbano

Essas distorções no deslocamento não são acidentais. Em muitas cidades brasileiras, os moradores negros estão concentrados em periferias ou áreas mais afastadas dos núcleos econômicos, onde a oferta de transporte público é escassa ou ineficiente. Esse padrão urbano segregado tem raízes históricas — resultado das desigualdades fundiárias e das políticas de urbanização que relegaram populações negras a regiões distantes, com acesso precário aos centros de trabalho.

Essa configuração urbana impõe um custo social e econômico maior às pessoas negras: mais tempo gasto no trânsito, menos segurança nos deslocamentos, maior exposição a riscos e menor disponibilidade de tempo para lazer, estudos ou vida familiar.

A interseção entre mobilidade e desigualdade racial se estende também ao mercado de trabalho. Indivíduos que enfrentam trajetos mais longos ou menos seguros acabam sendo limitados na escolha de oportunidades laborais. Um emprego formal em local distante pode se tornar inviável diante do custo (financeiro, de tempo e de desgaste) associado ao deslocamento.

Ainda assim, os dados revelam que a participação no mercado formal é menor em proporção entre negros do que entre brancos — o que agrava o ciclo da desigualdade. Onde há menos opção de trabalho formal próximo, resta uma maior dependência de empregos informais ou em locais pouco acessíveis.

Os resultados do Censo indicam que as desigualdades raciais também se refletem na mobilidade urbana. O acesso ao transporte e o tempo gasto nos deslocamentos variam de acordo com a cor ou raça dos trabalhadores, evidenciando que grupos populacionais enfrentam condições distintas para chegar ao trabalho.

Embora as políticas públicas de mobilidade sejam formuladas de forma geral, os dados mostram que seus efeitos não são uniformes: pessoas negras são, proporcionalmente, as mais afetadas por trajetos longos, custos elevados e menor oferta de transporte nas regiões onde vivem.

Caminhos para agir

Para reverterem esse quadro, gestores e planejadores urbanos precisam incorporar o recorte racial nos diagnósticos de mobilidade. Algumas medidas urgentes:

  • Priorizar corredores de transporte público que conectem periferias com polos de emprego.
  • Garantir tarifas subsidiadas ou diferenciadas para populações vulneráveis racialmente.
  • Estimular a descentralização de atividades econômicas e empregos, reduzindo a necessidade de deslocamentos longos.
  • Ampliar a fiscalização e a qualidade dos serviços de transporte nas áreas mais carentes, muitas vezes ocupadas por população negra.
  • Fomentar participação das comunidades negras nos processos de planejamento urbano, para que suas demandas sejam efetivamente ouvidas.

Especialistas apontam que a diferença no tempo e no modo de deslocamento está diretamente relacionada à desigualdade de acesso à moradia e à concentração de oportunidades de emprego nas regiões centrais das cidades. O resultado reforça dados já observados em outros levantamentos, como os da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que indicam maior vulnerabilidade social e econômica da população negra.

O IBGE também destacou que a proporção de pessoas negras que caminham até o trabalho é superior à de brancos, especialmente em municípios de menor porte. Em áreas urbanas, esse deslocamento a pé costuma estar associado à informalidade e à ausência de transporte público eficiente.

Os dados do Censo 2025 revelam, portanto, que a desigualdade racial no Brasil se expressa não apenas nas oportunidades de emprego e renda, mas também nas condições de mobilidade e acesso ao trabalho. A diferença no tempo e nos meios de transporte utilizados pelos grupos raciais reflete fatores estruturais históricos, como a segregação urbana e a concentração de renda e infraestrutura em determinadas regiões.

Jaice Balduino

Jaice Balduino

Jaice Balduino é jornalista e especialista em Comunicação Digital, com experiência em redação SEO, assessoria de imprensa e estratégias de conteúdo para setores como tecnologia, educação, beleza, impacto social e diversidade. Mineira e uma das mentoradas selecionada por Rachel Maia em 2021. Acredita no poder da colaboração e da inovação para transformar narrativas e impulsionar negócios com excelência

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