Mulheres negras e nordestinas têm mais retrocessos na vida, aponta pesquisa

mulheres negras

As mulheres negras e nordestinas continuam sendo as mais impactadas pelas desigualdades no Brasil, segundo a 3ª edição da pesquisa Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado, realizada pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Sesc-SP. O levantamento, divulgado na última terça-feira (1), aponta retrocessos nos direitos e condições de vida das brasileiras: metade já sofreu algum tipo de violência, mas 71% não denunciaram.

A desigualdade salarial continua expressiva: as mulheres recebem, em média, 40% menos que os homens. O peso recai principalmente sobre as mulheres negras e nordestinas: 59% das negras vivem com até dois salários mínimos, número que alcança 64% no Nordeste. Além disso, quase metade das entrevistadas (49%) são as principais provedoras de suas famílias — maioria jovem, negra e de baixa renda.

Desigualdade/Foto: Freepik

Esse retrato dialoga com dados de outras pesquisas recentes. A PNAD Contínua (IBGE, 2024) já havia mostrado que mulheres negras recebem em média 43% menos do que homens brancos, além de serem maioria nos empregos informais e nos setores de menor remuneração. O Atlas da Violência (IPEA e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023) também revelou que 66% das mulheres assassinadas no Brasil em 2021 eram negras, evidenciando a combinação entre racismo estrutural e violência de gênero.

No campo político, a pesquisa mostra queda no interesse das mulheres pelo tema (de 80% em 2010 para 71% em 2025). Ainda assim, há maior disposição em apoiar candidaturas femininas, especialmente de mulheres negras e indígenas. No entanto, a violência política de gênero permanece como barreira. Segundo dados do TSE de 2022, mais de 50% das candidatas negras relataram ter sofrido ataques virtuais racistas e misóginos durante as eleições.

Historicamente, mulheres negras e nordestinas estão entre as mais impactadas por desigualdades estruturais no Brasil. São elas que acumulam a tripla jornada — trabalho formal ou informal, tarefas domésticas e cuidados familiares — e enfrentam maior sobrecarga. Pesquisas da Rede de Mulheres Negras e da ONU Mulheres já apontaram que essa realidade limita o acesso a direitos básicos, como saúde, educação e segurança, perpetuando ciclos de exclusão.

Para a pesquisadora Sofia Toledo, da Fundação Perseu Abramo, os dados reforçam que “os retrocessos na vida das mulheres brasileiras são atravessados por classe, raça e território, atingindo de forma mais intensa quem já está na base da pirâmide social”.

Leia também: Cartilha aponta como desigualdades habitacionais afetam mulheres negras

Jaice Balduino

Jaice Balduino

Jaice Balduino é jornalista e especialista em Comunicação Digital, com experiência em redação SEO, assessoria de imprensa e estratégias de conteúdo para setores como tecnologia, educação, beleza, impacto social e diversidade. Mineira e uma das mentoradas selecionada por Rachel Maia em 2021. Acredita no poder da colaboração e da inovação para transformar narrativas e impulsionar negócios com excelência

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